Revelações de Jonas: Sexta Etapa da Viagem

Sexta Etapa da Viagem
Vendido!
 
 
Cavaleiro Negro... (Fonte)


Jonas saltou violentamente em cima do Cavaleiro Negro, que apenas riu e deu dois galopes para trás, deixando Jonas cair no chão. Jonas se levantou novamente e tentou pegar uma pedra para golpear o Cavaleiro. Esforço inútil, pois suas mãos atravessaram a pedra. "Mortos geralmente não erguem pedras, garoto.", disse o Cavaleiro. Com muito mais raiva Jonas chutou a perna do cavalo. Tentativa inútil, sua perna bateu em cheio nas proteções do animal para derrubá-lo, mas quem tombou com dor foi Jonas. "Humano demais...", disse o cavaleiro, enquanto erguia seu cavalo pelas rédeas e tentava acertar Jonas com um coice. Jonas consegue rolar pelo chão milésimos de segundo antes de o cavalo esmagar o lugar onde estava sua cabeça, mas quando tenta se levantar é subitamente preso ao chão pela pata dianteira esquerda do cavalo.

– Moleque idiota, se eu quisesse matá-lo teria feito isso agora... – Bradou o cavaleiro negro, imobilizando Jonas com a pata do cavalo e tocando sua testa com a ponta da espada. Jonas sente uma leve dor na testa.

– Então o que quer? – Pergunta Jonas, olhando em volta dele procurando por alguma espécie de arma.

– Esperar.

– Esperar pelo quê?

– Por mim. – Diz uma voz completamente familiar, a voz da Sombra. Ela se esgueira pelo chão noturno com suavidade e completamente despercebida, não fosse ter se anunciado. – Meu velho amigo aguarda somente uma resposta sua...

– Resposta? É desse modo que vai me dar livre arbítrio pra escolher?

– Você é realmente um completo imbecil... – Interrompe o Cavaleiro Negro. – Ele vale para todos, ou melhor, quase todos e você tem a opção de viver sob as regras da Sombra ou morrer pela minha espada... Se escolher o lado dos anjos está escolhendo por morrer pelas minhas mãos. Olhe a sua volte e procure pelo seu anjo da guarda? Onde ele está?

– Estou aqui. – Diz uma voz sublime, que vêem acompanhada de uma luz forte que cobre todo o ambiente, exceto nos locais que a Sombra e o Cavaleiro tocam. – Vim buscá-lo, Jonas, tive dificuldades em encontrá-lo, mas agora podemos partir...

– Nem pensar, borboleta. – Interrompe, dessa vez, a Sombra. – Essa jovem criatura de Deus tem uma resposta a me dar e antes de qualquer "pití" seu, espero que se lembre das regras...

– Não preciso de sua ajuda para lembrar-me. – Responde o anjo, olhando piedosamente para Jonas a seguir. – O que desejas nesse momento?



Se Jonas estivesse vivo, suaria frio. Mas ele não estava e todo esse nervosismo exalava de sua aura. Ele estava caído no chão, mantido nele pelos cascos do cavalo do Cavaleiro. Não faziam nem três minutos e seu novo, aliás, único amigo naquela nova situação estava morto em definitivo e nem sequer se acostumado com tudo aquilo. Diante dele naquele momento estavam um anjo, a Sombra e o Cavaleiro Negro. E todos eles queriam uma decisão dele. Apenas uma decisão.

– Chega! – Berrou Jonas. – Eu não faço a menor idéia de quem ou quê vocês são... Chego até mesmo a duvidar de meu estado atual... E vocês querem que eu tome uma decisão que envolve até onde vi minha própria destruição... Vocês são malucos por acaso e querem compartilhar comigo sua loucura? Ou me tomam por completo imbecil?

– Eu tomo-lhe por imbecil. – Respondeu o Cavaleiro Negro.

– Quieto meu fiel ajudante. – Interrompeu a Sombra. – O que o rapaz deseja apenas é informação, acredito que nosso amigo emplumado seja capaz de fornecer... Ou estaria enganado?

– ... – Silenciou o anjo.

– Então, jovem Jonas, vamos começar da maneira mais simples de todas, você me pergunta e eu respondo, se for para a borboleta dos céus, ela responde. – Falou a Sombra, aparentemente sentando em uma cadeira feita de si mesma. – É justo, concorda, pombo?

– Isso não me agrada, mas se assim poderei salvar sua alma... Deixemos ele em paz. – Assentiu o Anjo.

– Pra começar, o que está acontecendo? – Perguntou Jonas.

– Essa eu respondo. – Disse a Sombra. – Simples, você morreu! "Pou! Pou! Pou!", vários tiros certeiros em você que espalharam pedaços seus por toda a calçada próxima daquele arbusto do Largo dos Guimarães. Agora você tem a possibilidade de escolher qual lado decidir... E quer saber porquê? – Perguntou a Sombra, sabendo que sua insinuação obrigaria o anjo a ver respondidas questões que Jonas não estivesse disposto a entender.

– Diga, se já está falando... – Respondeu Jonas.

– Bem, quando você esteve em coma ouviu conversas e situações que não são dadas a um espírito de sua categoria. Foi testemunha de fatos que provavelmente apenas um grupo mínimo de pessoas na Terra, e até mesmo fora dela, foi capaz de escutar. E de posse disso nada fez, tanto para o bem quanto para o mal... Mas em compensação a revolta que a desolação trouxe a sua alma foi grande o suficiente para abalar sua noção de certo e errado na Terra. E deu no que deu... O Primeiro Tiro.

– E no que isso interfere em decisão?

– Em nada, mas me interessei por você em especial... Por causa da sua informação, não quero ela de posse de qualquer um.

– Quer dizer que estou passando por isso tudo só pro causa de segredinhos?

– Sim, e por gosto pessoal meu, mas acontece que quando você morreu o meu lacaio decidiu dar cabo definitivo de você... E não gostaria de ver algo ruim acontecer a um espírito tão novo quanto você. Ele sempre destrói suas vítimas na Terra, pra evitar aumentar o Carma dele... O "Aqui se Faz, Aqui se Paga"... Inteligente até, se não tem cobradores não tem dívida, apenas a consciência dele e ele não é o tipo de ser que se culpa muito... – Quando a Sombra falou isso, Jonas observou para o Cavaleiro Negro e teve a certeza de que ele sorria com tudo aquilo. – Em suma, se está até agora aqui existindo, é porque eu pedi a ele que o mantivesse vivo.

– E porque esse interesse súbito por minha pessoa? Não seria mais fácil me matar simplesmente?

– Porque vi que seria algo bem interessante... Demais, mas não posso falar até você aceitar minha oferta. Entenda, você só terá significado até o momento que disser "sim" ou "não", depois disso é consequência de suas escolhas, e entenda uma coisa: um "não" será desagradável, pois não poderei conter meu fiel amigo...

– Eu o conterei. – Interrompe o anjo. – Escolha com seu coração, não com seu medo. Estou aqui para protegê-lo de qualquer coisa, tenho Ele a meu lado...

– "Ele" não está aqui... – Fala a Sombra, devolvendo a interrupção. – E nós dois sabemos o que vai acontecer se vocês entrarem em conflito.

– Sei, e nada tenho a temer com Ele a meu lado... – Disse o anjo.



O Cavaleiro Negro embainhou sua espada novamente, observando atentamente Jonas a medida que deixava o jovem livre para se levantar. "Ótimo, civilizadamente...", disse a Sombra, irônica. O anjo se postou entre o Cavaleiro Negro e o jovem, deixando bem claro, sem uso de palavras, que o Cavaleiro Negro teria que passar por ele para conseguir algo. Jonas apenas ficava mais desnorteado com isso tudo.

– Isso vai me enlouquecer... – Balbuciou Jonas, já em pé.

– Não, a não ser que deseje isso... – Disse a Sombra, em seu ouvido. – Bem, se não tem mais perguntas, gostaria de uma resposta, não tenho toda a eternidade a sua disposição... E a espada de meu amigo quer aplacar a fome de sangue... Ops, você não tem mais sangue.

– Eu não posso escolher ser deixado em paz e longe de tudo isso? – Perguntou Jonas.

– Não de minha parte. – Disse o Cavaleiro Negro. – Só uma palavra e atravesso a cabeça de seu protetor e depois arranco a sua.



Jonas travou. Sabia que estava em uma encruzilhada e algo dentro de si garantia que apesar de toda a balela a respeito de livre arbítrio na realidade não tinha escolha alguma. Fitava o anjo e teve uma estranha impressão a respeito dele. Apesar de toda a aparência pomposa do ser divino, seu semblante mascarava algum sentimento diferente em relação à aquele momento, soava-lhe como se o anjo soubesse de algo ou tivesse alguma ordem que era segredo a senão todos ali, mas com certeza a Jonas.

– Diga-me, uma coisa, anjo. – Falou Jonas. – Você me responderia qualquer pergunta, qualquer coisa que lhe perguntasse, não?

– Sim. – Respondeu o anjo, com semblante mais preocupado ainda.

– Bem, gostaria de saber o motivo de tamanha preocupação... Existe algo que eu deveria não saber?

– Como assim?

– Exato, existe algo que se eu perguntar a você serei desviado da linha de pensamento e forçado a tomar conclusões erradas?

– Não. – Respondeu, demonstrando total sinceridade em suas palavras.

– Então se não é isso, do que se trata então?

– ... – Silenciou o anjo e Jonas teve certeza, existia algo mais.



Naquele instante Jonas teve certeza que muito mais estava em jogo do que simplesmente sua existência. "Adalberto morrera e nenhum anjo aparecera para salvá-lo", pensou, "porque então para mim teria?". Essa dúvida assombrou-lhe de tal forma que sentiu-se então satisfeito com apenas uma coisa. Se queria saber o que a Sombra planejava, jamais obteria tal informação da parte do anjo. Ele provavelmente o levaria para um lugar bem longe de onde jamais saberia porque tudo aquilo aconteceu. E Jonas, como dito no início de tudo, era tudo menos sensato. E ele tinha curiosidade em saber.

– Sombra, eu aceito sua proposta. – Afirmou.


O anjo deu de ombros e voou sem se despedir. Apenas desejou sorte a Jonas em sua decisão e que lembrasse sempre de Deus. Jonas não se importava mais com nada. A sombra pela primeira vez deixava transparecer algo em sua escuridão além de seus olhos brancos, deixou aparecer um largo sorriso. Ela pela primeira vez fez aparecer sua mão, uma mão feminina e delicada, estendeu-a até Jonas e os dois fecharam o acordo com um aperto de mãos. "Agora, precisamos apenas tornar oficial isso...", disse a Sombra enquanto ela mesma recobria o corpo todo de Jonas e deixava-o com uma pequena marca no braço direito, era um risco negro, semelhante a uma tatuagem. Começava grosso de um lado e afinava até desaparecer do outro. "Minha assinatura, todos os meus contratados possuem...".

– Marcado como gado... – Disse Jonas.

– Não, você tem toda a sua liberdade, contanto que me acate quando sua liberdade interferir em meus interesses durante nossos trabalhos.

Jonas apenas assentiu com um gesto com a cabeça. Sem dar tempo de processar a informação a sombra cresceu de tamanho e envolveu Jonas e o cavaleiro em uma completa escuridão. Jonas teve a sensação de voar muito rápido e quando a escuridão cessou ele, acompanhado da Sombra e do Cavaleiro, estava novamente onde tudo começara, naquele mesmo desfiladeiro vermelho...

 
De volta... ao início de tudo... Fim das Revelações.
 
Próxima parte: Conspiração.

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