Revelações de Jonas, Conspiração: Sétima Etapa do Plano

Revelações de Jonas: Conspiração
Sétima Etapa do Plano
Xeque-Mate


Albano era um perfeito assassino, disso todos na Organização sabiam, mas ele possuía uma mácula em seu passado, ele sempre se lembrava de suas falhas antes de qualquer missão...


...Era por volta de março de 2002, Albano estava há alguns meses sem realizar tarefas para a alta cúpula. A maior parte do tempo livre dedicou-se a permanecer isolado em sua nova residência, no Leblon. Para não levantar suspeitas a respeito de como havia ganho dinheiro rápido, a Organização providenciou junto a seus membros em Brasília que Albano fosse cadastrado como ganhador de alguma loteria federal de menos impacto na mídia. O prêmio cadastrado seria de pelo menos vinte milhões de reais e com essa premiação a mudança súbita de Albano passou desapercebida pela sociedade em geral, principalmente entre os que costumam ver tomada em focinho de porco.

Como todo funcionário de alto escalão, Albano tinha a sua disposição uma série de subalternos que providenciavam a ele praticamente tudo que pedisse. Uma das coisas que esses subalternos providenciaram foi uma frota de dez Chevettes Modelo 85, negros, e com placas clonadas. Este seria o modelo de carro oficial em todos os serviços de Albano. Sempre que precisasse teria um desses carros a sua disposição. Isso era possível porque todos os veículos ficavam espalhados em 10 pontos aleatórios da cidade do Rio de Janeiro. Além do que ficava obviamente com ele, em seu prédio, os demais ficavam estacionados nos seguintes bairros: Bairro de Fátima, Méier, Barra da Tijuca, Sulacap, Tijuca, São Cristovão, Ilha do Fundão e Campo Grande. A medida que um carro se depreciava, sempre estavam reformando algum outro para manter a quantidade de carros constantes.

O carro obviamente não era um modelo original, seu recheio era bem mais potente que muitos carros esporte da época. Pra começar ele era equipado com rodas de liga leve desenhadas de forma a se parecerem com rodas comuns. Seu motor lata-velha há muito tempo fora substituído por um autêntico modelo V8 com 300cv de potência, e todos os opcionais que essa potência precisava, como nitro e turbo, com painéis exclusivos, botões de ativação dos sistemas nestes painéis. O carro simplesmente ia de 0km a 100km em 6 segundos. Para dar maior liberdade a Albano em perseguições, o carro tinha a dois modelos de câmbio, o tradicional com embreagem e uma versão automática para quando precisasse de uma mão livre para atirar. Um sistema de GPS experimental também foi instalado no veículo, com tela de LCD 10 polegadas escondida no corta luz, onde ele também poderia receber mensagens em áudio ou em vídeo da Organização através de tecnologia GSM.

Outra maravilha tecnológica era o sistema de ocultamento do veículo, para utilizar em perseguições policiais. Para começar, a numeração da placa era clonada, o que seria completamente comum, mas o carro tinha um sistema de troca de placas, onde em caso de necessidade bastava apertar um botão do volante para uma nova placa de identificação se colocar em frente da placa original, disfarçando o veículo. Associado a isso o carro era pintado utilizando um pigmento especial que reagia a luz do sol, isso quer dizer: se fosse dia, o carro ficava preto que nem carvão, mas se anoitecesse ou entrasse em uma garagem, essa tonalidade se alterava para azul escuro em questão de segundos, bastando apenas esfriar o carro com um pouco d'água.

Para evitar problemas com a polícia, os vidros do carro não haviam sofrido alteração nenhuma em relação a visibilidade, apenas seriam a prova de bala, como todo a carroceria. Por sinal, visualmente o carro não tinha nenhum detalhe que chamasse a atenção sobre seu recheio ser legalizado ou não, só por isso já passando direto de diversas blitz. E mesmo se fosse parado, o porta-luvas continha uma identificação de Juiz Federal que sempre funcionava, tamanha a perfeição da falsificação e o poder de convencimento que uma carteirada exigia. E caso esbarrasse em uma falsa blitz e o carro fosse roubado, o carro explodia em cinco minutos destruindo uma área de cinqüenta metros. Acontecia por causa de duas substâncias aparentemente inofensivas que eram colocadas no banco do motorista e caso alguém se sentasse sem se identificar no monitor de cristal líquido em cinco minutos, o sistema misturava as duas substâncias resultando em um material altamente explosivo e inflamável, que explodia rapidamente.

O porta-malas do carro tinha um cilindro de kit-gás completamente oco e adaptado como se fosse uma maleta com quatro níveis internos. No primeiro nível ficavam duas pistolas holandesas FN Five-Seven, duas Magnum 608, ambas carregadas, silenciadores, e duas caixas de cartuchos para a Magnum 608. No segundo nível tinham duas submetralhadoras holandesas FN P90, e a munição da pistola e da arma em 4 carregadores avulsos para cada, além de quatro caixas de cartucho da munição da submetralhadora e da pistola, que usavam o mesmo tipo de munição. No terceiro nível do cilindro, ficava um kit para manutenção e desentupimento de armas, e um espaço onde eventualmente guardava algum fuzil sniper aleatório desmontado. No quarto nível tinha espaço livre para muitas granadas, onde ele sempre carregava pelo menos duas de fumaça, duas de gás lacrimogêneo e duas explosivas tradicionais, mas cabiam pelo menos 15 granadas naquele compartimento. Em suma, Albano sentia-se um agente secreto quando dirigia aquele carro, e ao mesmo tempo, um dos criminosos solitários mais bem armados da cidade.



Mesmo completamente equipado, sempre andava desconfiado e não sentia-se perfeito. Sabia que um dia as coisas dariam errado, mesmo sem saber quando. Ele tinha uma rede de observadores que sempre chegavam primeiro nos locais dos serviços, para checar se tudo estava de acordo com o planejado e, principalmente, para minimizar o número de vítimas, pois toda testemunha seria morta pela Organização. As ordens de Regina eram claras que nem água e deveriam sempre ser cumpridas. E naquele dia de março de 2002, as coisas deveriam ser como sempre, deveriam ter sido ao menos.



Ele tinha que matar três jovens que estavam em um prédio no bairro do Flamengo, próximo ao Largo do Machado. Eram dois garotos acima do peso, de cabelo compridos e aparência de roqueiros, mas um loiro e o outro com cabelos negros. O loiro tinha uma aparência imbecil, na avaliação de Albano. O terceiro jovem tinha aparência mais rica e parecia usar roupas diferentes das dos outros rapazes. Seria um serviço simples, sem nenhum entrava, tanto que Albano optou por confiá-lo a um ladrão de rua que ganharia cinqüenta reais e duas trouxas de maconha pelo serviço. O horário provável de saída deles era desconhecido, mas bastavam ter paciência. Para preservar a Organização, os nomes dessas pessoas eram sempre suprimidos nos relatórios, sendo substituídos por simples fotos de corpo inteiro, tiradas em segredo. Albano nunca entendia esses serviços, pois aparentemente todas as pessoas que matara pela Organização eram pessoas até certo ponto comuns, desconhecidas da mídia em geral.



De qualquer forma, a missão foi um fracasso total. Por algum motivo alheio a vontade de Albano, quando seu contratado abordou os jovens a caminho do Largo do Machado, um deles, o de aparência mais imbecil segundo a visão de Albano, reagiu a investida do ladrão. Assim que o ladrão os abordou mandando-os encostar, o jovem citado acima agarrou o meliante pelos braços e disse "Encosta aí é o caralho!", em seguida os dois se atracaram e caíram ambos no chão. Depois disso outro dos jovens gritou que nem uma mulher a respeito da arma e os três conseguiram fugir pelas ruas até chegar a um lugar com muitas testemunhas de onde o ladrão não poderia mais persegui-los. Esse bandido foi morto minutos depois por Albano, em virtude de sua incompetência. Albano os seguiu pela cidade do Rio de Janeiro até eles chegarem a Rua Ceará, na Praça da Bandeira. Como o local era freqüentado por muitos policiais dentre as mais diversas classes, Albano abortou a missão e a deu como falha.



Apesar de seu fracasso, Albano recebeu mais uma chance de exterminar dois desses alvos, a dupla de gordos roqueiros. Era agora junho de 2002, seria algo simples, os dois estavam indo de Metrô da Estação Carioca até a Estação Maria da Graça. De lá eles iriam de ônibus até o bairro do Méier, e bastava apenas interceptar o ônibus e matá-los para executar tudo de acordo com o figurino. Para realizar o serviço, Albano contratou experientes traficantes da Favela do Jacarezinho e para garantir que nada daria errado ele mesmo estaria com uma arma apontada para eles, para que no momento em que o ônibus parasse ele desse o tiro.



Tudo saiu como esperado, aliás, quase tudo. Os traficantes interceptaram o ônibus no bairro do Cachambi, próximo a um supermercado e se preparavam para invadir o ônibus simulando um assalto, mas uma quadrilha rival apareceu no mesmo instante e ambas começaram a guerrear entre si. "Merda, agora isso", pensou Albano no meio do fogo cruzado, apontando sua arma para a cabeça do alvo de cabelos negros, que estava na janela do ônibus observando tudo curioso. Subitamente, no exato milésimo de segundo antes da bala sair do cano da arma, o gordo imbecil puxou o seu amigo para o chão do ônibus e a bala passou direto pela janela do ônibus, acertando apenas um prédio do outro lado do veículo e sem danificar nenhuma janela. Quando Albano recarregou sua arma para um novo disparo o ônibus já tinha partido e seria difícil conseguir algo dali em diante. Mais um fracasso para o currículo de Albano.



Ainda assim a Organização não desistia de matá-los, e além desses dois alvos acrescentou um novo alvo. Era um rapaz de pele morena, magro e que sempre andava de jaleco de ônibus em ônibus. Pela aparência dele devia ser algum universitário. Albano mataria os três em um engarrafamento na Av. Presidente Vargas, durante um enorme engarrafamento causado por uma forte chuva. Os três jovens corriam pela calçada da Av. Presidente Vargas na altura do prédio dos Correios, e Albano os aguardava ansioso do alto de um prédio próximo ao sambódromo. Albano usaria um rifle de alta precisão com mira telescópica e a lazer, dificilmente erraria, pois era sua especialidade de atentado.



Errou. Quando apertou o gatilho apontando para o rapaz moreno, acertou exatamente no lugar onde sua cabeça acabara de sair por causa de uma poça d'água, o tiro foi certeiro e deixou uma bela marca numa parede atrás dele. Quando foi tentar dar um novo tiro, um pombo teve maior mira e defecou exatamente na mira da arma, a inutilizando por tempo o suficiente para que Albano perdesse os alvos. "Alguém está de palhaçada... mas dessa vez não vou perder os alvos", pensava Albano enquanto corria pelas escadas do prédio onde estava e ia até seu carro. Perdeu os alvos, pois assim que saiu do prédio o engarrafamento acabara e por falta de novas instruções (Albano as esquecera de dar, por causa da limpeza da arma) seus agentes mantiveram-se nos mesmos postos.



Tirolez abandonou sua arma no carro e correu pela Avenida Presidente Vargas em busca de seus alvos, acabou encontrando apenas um deles, o estudante moreno, indo em direção a Rua da Carioca. Albano o seguiu a uma distância segura, e o viu pegar o ônibus 217 no ponto final, sem pagar. Tirolez conseguiu chegar a tempo de entrar no ônibus e sentar duas poltronas atrás de seu alvo. O ônibus seguiu viagem pelo Rio de Janeiro até a Tijuca sem problemas, pelo menos para Albano, mas quando estava na parada de ônibus da Praça Saens Pena praticamente engatando a primeira marcha, o jovem moreno levantou-se num pulo do lugar onde estava sentado e saiu correndo pela porta. "Merda! Dormi demais... Paraí!", berrou o jovem moreno saindo apressado do ônibus. Albano inutilmente tentou acompanhá-lo, pois o motorista fechou a porta com raiva e correu bruscamente com o ônibus. Cansado de sua sutileza, sacou uma pistola na frente de todos e apontou para o jovem, que corria apressado até o metrô.



As pessoas do ônibus se apavoraram e se jogaram no chão. Com o susto, o motorista deu uma freada brusca que por muito pouco não jogou Albano no chão, mas foi suficiente para tirar a mira do rapaz e fazê-lo atingir o teto da lotação. Tirolez praguejou e só não descarregou sua arma na cabeça do motorista porque um passageiro mais corajoso lhe chutou a arma da mão enquanto levantava. Ainda assim tinha sua outra arma, e quando ia sacá-la, seu telefone celular começou a tocar. Irritado com tudo aquilo, Tirolez chutou a porta do ônibus e correu pelas ruas em disparada, até sentir-se seguro. Enquanto isso, atendia o celular:

– O que foi? – Perguntou Tirolez, correndo pela Rua Conde de Bonfim em direção a esquina com a Rua General Roca no sentido Shopping Tijuca.

– Tirolez, nós precisamos de você na sede com urgência. – Disse uma voz conhecida de Albano.

– Regina? Onde está a secretária? – Falou Albano, com espanto, Regina era altiva demais para não utilizar secretárias em ligações, mesmo que fossem para ele.

– Isso não vem ao caso, estamos com problemas. – Disse Regina.

– Que coincidência... – Afirmou Albano, enquanto desviava de alguns velhinhos e começava a atravessar a Rua Santo Afonso com o sinal aberto, em suma, desviando de carros. – E ainda estou tendo que correr com o telefone na mão.

– Resolva isso e venha para cá imediatamente, é uma ordem.

– Sim, senhora.



A ligação caiu, provavelmente cortada por falta de instruções, e o uso de tal palavra, "ordem.", exercia um efeito hipnótico absurdo em Tirolez. "Uma ordem é uma ordem e um soldado deverá cumprir até a morte", esse era seu modo de ver as relações entre um superior e seus comandados. Muitas vezes Albano se sentia fora do seu tempo, desejando muito ter nascido na época das relações de vassalagem da Idade Média, sentir-se-ia menos de outro mundo. Até mesmo o shogunato japonês lhe seria mais apropriado que viver nessa época contemporânea e demagoga. Com o comando em mente, Albano ganhou um novo ímpeto para correr, obedecer, e com isso em trinta segundos estava dentro de um novo ônibus, um 422, e com ele avançou rapidamente para o endereço da sede da Organização...






...O alarme de seu relógio de pulso soou, trazendo Albano de volta ao presente. Ele tinha uma missão a cumprir, e seu objetivo era maior que qualquer lembrança que pudesse por ventura possuir, mesmo que isso abalasse sua confiança de algum modo, mas no fundo enquanto ele fosse Tirolez, isso não incomodava. Por sinal, existia um segredo em Albano que poucos membros da Organização sabiam, Tirolez não era apenas um apelido banal inventado por seus companheiros, faziam quatro anos que Tirolez era também a máscara de Albano. Ele literalmente tinha um gatilho mental que desativava o "Albano" e ativava a personalidade de "Tirolez", eliminando qualquer resquício de receio dentro de si. E naquele momento não convinha lembra disso, não tinha tempo.

A missão era simples, Regina havia lhe passado a foto de um vereador do município de Angra dos Reis. Ao que foi passado a ele, o vereador tinha vindo discutir com alguns políticos da capital soluções para o sucateamento das usinas Nucleares de Angra I e II. Os fatos exatos sobre o ministro não vieram no material, mas Tirolez não precisava de nenhum motivo, apenas precisava de uma ordem, uma arma e uma localização. Pensar era serviço de seus superiores, seu cérebro estaria dedicado a apenas executar a missão.

Segundo as transmissões dos rádios dos seguranças do vereador e informações obtidas no hotel onde ele estava hospedado, o alvo estaria por volta das quinze horas tomando sorvete em uma sorveteria italiana localizada na orla. Estariam com o vereador sua família e poucos seguranças, dado que o espaço era pequeno para comportar todos e por ser quebra de protocolo, o ambiente estaria aberto a outros clientes. Existia somente um fato que complicava tudo, a sorveteria ficava localizada próxima a uma boate freqüentada por muitos turistas e prostitutas, e um hotel famoso e com muitos seguranças espalhados. Se Tirolez queria executar esse serviço com o mínimo de risco, teria que criar alternativas.

– Senhor, tenho uma idéia... – Disse um dos agentes presentes, pelo rádio.

– Diga, já são meio-dia e ele chega as três... – Respondeu Tirolez.

– Não poderíamos, quem sabe, fechar a sorveteria e obrigar ele a ir para outro lugar? – Continuou o Agente.

– E que garantias temos que ele não iria simplesmente embora?

– O filho dele tem oito anos, provavelmente vai exigir ir a algum lugar...

– Verdade... Crianças tem esse problema, ainda mais essas ricas. – Falou Tirolez. – Como fechamos a sorveteria?

– Cortando a luz, sem luz, sem sorvete... Vai descongelar, então terão que fechar.

– Façam isso. – Ordenou Tirolez.



Alguns minutos e algumas ligações um técnico da operadora de Luz Elétrica chegou acompanhado de um supervisor, eles entraram na sorveteria e após muita discussão com o gerente do local, conseguiram cortar a luz do local. Com isso, precisamente as treze horas o local estava fechado exatamente o que Tirolez queria. Agora era apenas esperar e ver para onde esse vereador iria e torcer para o plano do agente der certo, caso contrário Tirolez o mataria pela idéia...









Fernando e Renato acordaram cedo naquele dia. Desde o dia 14 de maio não tivera outro surto parecido, e completavam uma semana nessa absoluta paz. Por falta de credulidade, na mesma manhã em que Renato e Fernando leram a carta, decidiram jogar ela fora e seguir a vida de cada um. Estavam felizes e um milagre os mantinham juntos, nada mais tinham a temer exceto eles mesmos e talvez algum homofóbico maluco que decidisse lhes fazer mal. Estavam no dia 21 de maio de 2006, uma bela manhã de sol começara.

Eles estavam a poucas horas de dar fim a esses dias de horror indo ao consultório do doutor Eduardo para ele dar a alta definitiva em Fernando. A consulta estava marcada para as treze horas. Eles iriam ao consultório do doutor Eduardo porque apesar dele trabalhar no Hospital Copa D'or, não tinha condições de dar um atendimento dedicado 100% a Fernando, pois emergências surgiam sempre em seus plantões. O consultório ficava na Av. Nossa Senhora de Copacabana, na altura da Rua Miguel Lemos, em uma edifício comercial com uma galeria. Seu consultório ficava no sétimo andar desse prédio e ficava voltado para os fundos.

Renato e Fernando chegaram ao consultório pontualmente meia hora antes do início da consulta. Era uma sala comercial simples, com um ambiente onde ficava a recepção, com uma secretária linda, loira dos olhos azuis e com corpo perfeito, que para espanto de Fernando, o atraíra. E ele não sentia isso por mulheres. Nessa recepção tinham duas portas, uma ficava logo em frente a porta de entrada, com uma placa a identificando como sendo o consultório propriamente dito. Na parede a direita da entrada, ficava a porta do banheiro e colado a porta tinha um filtro daqueles que usam galão d'água. Na parede da direita e em parte da parede da porta de entrada tinham bancos de espera simples, com encosto, e com o estofado um pouco gasto, mas sem nenhum rasgo aparente.

A secretária ficava em uma pequena mesa colada a porta do consultório utilizando um computador que parecia ter sido retirado de algum museu de informática, de tão amarelado que estava. Ao lado da mesa tinha uma mesinha com muitas revistas espalhadas, todas elas aparentando ser de 2005. As paredes da recepção eram pintadas em um tom de verde pálido, e o teto completamente branco, com um ventilador sempre girando, apesar de existir um ar-condicionado de parede ao lado.

Além deles apenas havia um senhor sentado na ponta dos bancos de espera próximo da porta do consultório. Ele lia um jornal de forma tal que mal se via seu rosto, mas notava-se que provavelmente também era médico por suas roupas impecavelmente brancas. O casal sentou nos bancos pegados a porta. Enquanto esperavam, o homem que lia jornal virou uma página deste, permitindo aos recém chegados verem nitidamente seu rosto.

Fernando reconheceu presente na sala de espera o médico que realizara seu exame de ressonância na semana passada. Não se lembrava exatamente do nome dele, mas sabia que era relacionado a alguma coisa feliz. Sem graça por vê-lo, e sentindo uma ponta de preocupação, Fernando evitou encará-lo e preferiu ler alguma revista para evitar que Renato percebesse algo e fizesse perguntas descabidas. Quando faltavam quinze minutos para o atendimento de Fernando, um paciente saiu do consultório e em seguida esse médico entrou, solicitado pela secretária. Cinco minutos depois doutor Eduardo chamou Fernando, que se levantou de imediato e caminhou preocupado. Renato o acompanhou, autorizado pela secretária.

O consultório do doutor Eduardo consistia em uma sala ampla, com uma imensa janela ao lado oposto da porta, ocupando praticamente todo esse lado, mas sem mostrar nada além de uma persiana que deixaria o ambiente escuro, não fossem um trio de lâmpadas frias no teto. Na parede a esquerda da porta de entrada ficavam os arquivos antigos, em papel, do doutor, ocupando toda a parede até a janela. Em cima desses arquivos tinham os mais diversos livros médicos, todos em um estado de conservação admirável. Na parede da direita tinha uma estante com uma televisão 20 polegadas com vídeo embutido e um aparelho de DVD, e colada a essa estante um mural de luz branca, provavelmente usado para mostrar radiografias e exames do tipo. A mesa do doutor Eduardo ficava exatamente em frente a essa janela, e tinha para os clientes pelo menos mais cinco cadeiras além da dele, todas elas cadeiras com rodas.

Doutor Eduardo estava sentado em sua cadeira com um semblante desconfiado, enquanto mexia no controle remoto da televisão. Numa das cadeiras para pacientes, a no extrema esquerda, estava sentado o outro médico, e ambos fitaram Fernando ao entrar. Fernando sentiu um arrepio profundo na espinha e sentou-se na extremidade oposta ao outro médico, incomodado com o olhar dos dois doutores. Para aliviar sua tensão, Renato o seguira e se sentou ao lado de Fernando, ajudando de certa forma a dispersar o olhar dos dois doutores.

– Bem, Fernando, espero que se lembre do doutor Felix, foi ele quem realizou seus exames na semana passada.

– Ah, sim, lembro dele com certeza. – Mentiu Fernando, sendo educado, pois do doutor só lembrava do rosto. – Como vai o senhor?

– Bem, e você? – Perguntou doutor Felix. – Sentiu alguma coisa estranha nesses dias que passaram?

– Não, nada de estranho aconteceu... – Mentiu Fernando, sentindo-se compelido a mentir, como se obrigado... Desconfiava das perguntas desse médico.

– Como não Fê? – Interrompeu Renato. – E o que aconteceu no dia...

– Foi apenas um pesadelo, já conversamos sobre isso. – Interferiu Fernando, ríspido, querendo que Renato calasse a boca.

– Pesadelo? – Perguntou doutor Eduardo, interessado.

– Nada demais, sonhei apenas que o Renato me dava um susto. – Respondeu Fernando cutucando Renato discretamente quando ele fez menção de abrir a boca.



Os dois médicos se encararam e silenciaram, optando não se envolverem na discussão dos dois. A seguir, doutor Eduardo conseguiu finalmente ligar o aparelho de DVD e sua televisão, exibindo um vídeo dos exames de Fernando. Eram dois arquivos de vídeo diferentes, mostrando o cérebro de Fernando de diversos ângulos, um dos arquivos era datado de 12 de maio, o dia em que despertara, e o outro do dia 11 de maio, quando supostamente foi constatada morte cerebral. Fernando e Renato não conseguiram ver grandes diferenças entre um vídeo e outro. A exibição durou pouco mais de quinze minutos, tensos para Fernando por causa dos olhares dos médicos. Quando doutor Eduardo desligou a televisão, o doutor Felix tirou de um grande envelope pardo algumas chapas negras dos exames e as pendurou no mural de luz branca.

- Fernando, como pudemos ver no vídeo, o senhor não apresentou nenhuma diferença evidente que pudesse fazer alguma diferença. – Falou doutor Felix, apontando para as chapas em tons de cinza.

- Entendo. – Respondeu Fernando.

- Também pude ver que não tem nenhum coágulo ou qualquer tipo de problema aparente em sua constituição cerebral, o que de todo é muito bom... – Continuou o doutor Felix.

- Mas...?- Indagou Fernando.

- Bem, quando analisamos o espectro de atividade cerebral, constamos algumas coisas estranhas, como vê pelas cores das demais chapas...

- Estranhas como? – Perguntou Renato, não entendendo.

- Bem, a primeira chapa, tirada no dia 11 de maio, mostra que o cérebro está sem nenhuma atividade, como indica a coloração azulada. – O doutro Felix pega uma vareta e aponta para a chapa do dia 11 de maio. – Temos aí a diagnose de morte cerebral, e o EEG mostrou isso também, se quiserem desenrolo o exame, mas não vejo necessidade técnica. Essa chapa e a seguinte representam graficamente de forma resumida os dados obtidos pelo EEG... Bem, a coloração azulada indica as áreas do conjunto cerebral inativas, e a coloração avermelhada mostra as áreas ativas.

- Estou vendo que parece que os exames foram invertidos... Você por acaso trocou as cores? – Perguntou Fernando, preocupado.

- Não, e se observar bem de perto, verá que a coloração do segundo exame, na parte vermelha, é mais forte ainda, como se seu cérebro estivesse hiperativo ou usando uma capacidade maior do que a conhecida, em compensação a outra área está quase sem atividade. Uma coisa que devem ter aprendido no colégio, é que o cérebro é dividido em duas áreas, uma é responsável pela atividade voluntária do cérebro, e a outra pelos movimentos involuntários, e o que vi nesses exames foi uma inversão, você antes só tinha atividades na área involuntária do cérebro, e no dia que fiz o exame isso se inverteu, deixando-o praticamente com a área involuntária desligada, ou funcionando mal.






Exame 1: Morte Cerebral

Exame 2: Vivo

Exame de Atividade Cerebral 1: Morte Cerebral

Exame de Atividade Cerebral 2: Indefinido.


– Isso quer dizer que vou morrer? – Perguntou Fernando, preocupado, observando as chapas agora de perto.

– Se você fosse morrer, teria morrido antes. – Respondeu o doutor Eduardo. – O que acontece é que você é pelo menos o décimo caso do doutor Felix que apresenta essa anomalia da atividade cerebral depois de um trauma severo como o seu.

– Décimo caso, meu, diga-se de passagem... – Falou o outro médico. – Existem pelo menos mais de seiscentos casos iguais aos seus pelo mundo desde que passamos a registrá-los e catalogá-los... Sem contar os lugares em que a OMS não atua. São exames muito parecidos e em circunstâncias mais parecidas ainda, e pelo que sabemos era para você estar morto. Mas está aqui falando, caminhando e até mesmo se sentindo incomodado com nossos olhares preocupados.

– Perceberam... – Indagou Fernando.

– Fernando, temos anos de experiência em dar más ou boas notícias as pessoas, com o tempo passamos a identificar as reações e os olhares das pessoas. – Explicou o doutor Eduardo.



Depois disso, os dois médicos realizaram vários exames em Fernando e nada de estranho encontraram. Todos esses procedimentos duraram pelo menos mais uma hora, e quando eram por volta de duas e meia da tarde, Fernando e Renato estavam na rua. "Estou faminto, vamos comer alguma coisa...", perguntou Renato, enquanto passavam em frente ao Mc Donald's perto da Rua Xavier da Silveira na altura do número 960 da Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Mesmo chocado com as informações e com toda a preocupação, Fernando aceitou a sugestão de Renato e os dois entraram no restaurante de fast-food. Rapidamente foram servidos para eles duas promoções e eles se sentaram nas cadeiras no fundo da loja para conversar. Renato fez questão de conversar assuntos fúteis, que ajudassem Fernando a superar essa carga emocional toda. E passaram ali momentos extremamente agradáveis.



...Os relógios de todos os agentes da Organização estavam sincronizados, e todos os relógios marcaram exatamente 14:45 quando o vereador e sua comitiva estacionaram em frente da sorveteria fechada. Era uma comitiva formada por três Santana pretos, sendo que os dois carros das pontas das comitivas eram ocupados somente por seguranças do vereador. A polícia militar deu apoio fornecendo dois policiais de moto, que acompanhavam o carro do vereador pelos lados. "Amadores...", pensou Tirolez, enquanto esperava alguma movimentação da comitiva de dentro de seu chevette preto. Cinco minutos depois os seguranças desistiram de bater na porta da sorveteria, deserta a essa altura, e após passaram comandos pelo rádio, entraram novamente nos carros. Albano imediatamente pegou seu walkie-talkie de mão e rastreou a freqüência dos rádios dos seguranças e escutou que o filho do vereador reclamava muito e que por causa disso iriam para o Mc Donald's mais próximo. Tirolez comemorou por dentro a escolha que eles fizeram.

A comitiva se reagrupou e seguiu pela Av. Atlântica, entrando na Rua Djalma Ulrich e em seguida dobrando a direita na Av. Nossa Senhora de Copacabana, para estacionarem exatamente no Mc Donald's, número 967, que ficava entre as ruas Xavier da Silveira e Bolivar. Como naquele local era um ponto de ônibus movimentado, a comitiva foi forçada a se separar para evitar problemas com as pessoas e atrair a imprensa de alguma forma. Os seguranças, a família do vereador e o próprio saltaram dos carros e entraram no restaurante, enquanto os carros entraram na rua Bolivar e estacionaram, onde ficariam aguardando por novas ordens. Tirolez seguiu a rua Djalma Ulrich, cruzando a Av. Nossa Senhora de Copacabana, mas estacionando próximo o suficiente do local para em caso de necessidade chegar a seu carro e fugir em direção a Barra. Lembrou-se então que alguns quarteirões acima ficava uma delegacia de polícia que poderia causar problemas, portanto, antes de começar seu pequeno serviço, precisava conversar com sua equipe:

– Atenção, aqui é Tirolez, temos novas ordens! – Berrou Tirolez, em seu Walkie-Talkie. – Precisamos distrair toda a milícia das redondezas, portanto as ordens são para invadirem o morro do Cantagalo e iniciarem uma guerra de quadrilha em cinco minutos! Tiroteio dos grandes, de atrair a imprensa! Vocês tem autorização para usar as granadas...

– Senhor, se nós formos, quem executa o serviço? – Perguntou um dos agentes.

– Eu executo, oras. – Concluiu Tirolez, desligando o rádio.



Os soldados não gostaram das ordens, não por discordarem do método, mas por desejarem ver a matança que Albano realizaria. Era curioso para todos da Organização, principalmente entre os de escalão inferiores, que uma pessoa que não era um dos Iniciados exercer tal cargo de confiança, e o melhor, apresentar tamanha frieza em serviço e toda a lealdade que apresentava. Ainda mais de uma pessoa que falava apenas em missões, e para dar ordens, e muito pouco ou quase nada em momentos de descontração. Mas ordens eram ordens, e partiram em direção ao morro esperando apenas cumprirem tudo rapidamente para poderem voltar a tempo de assistir algo do serviço.

Tirolez saiu do carro e viu os carros de seus agentes seguirem a Djalma Ulrich em direção ao Cantagalo. Assobiando uma música do Black Sabbath, Tirolez começou lentamente a se preparar para o serviço. Foi até seu porta-malas e o abriu, tirando de dentro dele um sobretudo negro de couro, preparado especialmente para essas ocasiões. O sobretudo era reforçado com duas camadas de material a prova de balas, que apesar de reduzir um pouco a flexibilidade do material, permitia a Tirolez levar alguns tiros e continuar andando depois. Aproveitou também para prender o walkie-talkie na cintura e puxar um fio até a orelha direita, pra evitar que tivesse que pegá-lo caso tivesse alguma nova instrução. Conferiu do mesmo modo se a Injeção estava dentro do seu compartimento do sobretudo, a Injeção era a arma suprema da Organização, qual sua serventia Albano nem se importava em saber, mas tinha que portá-la sempre e usá-la sempre que solicitado. Tudo estava perfeito até aquele momento.

Em seguida Tirolez ativou o mecanismo de alavanca do carro que girava o falso cilindro de gás de forma que pudesse abrir sem muito esforço. A princípio checou as pistolas, atarraxou um silenciador em uma delas, e colocou as duas armas em bolsos internos do sobretudo adaptados para esse uso. Depois pegou as duas magnum e as prendeu na cintura, nas costas, de modo fácil de pegar depois. Recolheu uma das submetralhadoras e dois carregadores dela e um das pistolas. Os carregadores colocou em outros bolsos internos e a submetralhadora, por seu formato, conseguiu colocar presa no interior da manga esquerda de seu sobretudo, maceteada de forma tal a sair e começar a atirar com um simples balançar de mãos. Por medida de segurança, pegou três granadas, uma de fumaça e outra de gás, e a terceira explosiva das mais potentes, e para completar ainda se arma com uma faca de caça que coloca na outra manga do sobretudo. Tirolez não se sentia pesado porque o sobretudo era acolchoado de forma tal a minimizar a sensação de peso nos ombros. O treinamento constante de Tirolez se encarregaria de dar forças a suas pernas.

Quando se passaram quatro minutos Tirolez estava pronto para terminar seu trabalho do dia. Trancou o carro e o porta-malas ao mesmo tempo em que escutou o eco da primeira explosão de granada. Em seguida o eco dos tiros começou e Tirolez deixou escapar um sorriso, o momento chegara. Tirolez atravessou cautelosamente a Avenida nossa Senhora de Copacabana, e avançou em direção do Mc Donald’s. Viu quando as viaturas da delegacia próxima entraram apressadas pela Rua Djalma Ulrich em direção ao Cantagalo "Perfeito, isso me dá pelo menos cinco minutos.", calculou Tirolez, do modo mais cauteloso possível. Notou também que o tiroteio parecia estar tão violento que a Avenida Nossa Senhora de Copacabana estava deserta, mesmo os ecos sendo distantes a polícia deveria estar usando o início da avenida como base e a fechado, o que resultaria em menos testemunhas e conseqüentemente, em menos pessoas no IML.

Tirolez precisava antes de tudo neutralizar os motoristas dos veículos da comitiva, pra evitar que atraídos pelos tiros viessem praticar atitudes heróicas. Tirolez passou direto pelo Mc Donald's, apressado e sem olhar para ele, e dobrou a Rua Bolivar em busca dos motoristas. Para sua sorte estavam todos eles conversando apoiados no capô do primeiro carro. A animação era generalizada, pois o serviço era fácil demais e estavam sendo muito bem pagos. Um deles até dizia que ia se casar dois depois. Tirolez não deu a eles chance de reação, sacou sua pistola com dispositivo silencioso e deu três disparos certeiros na cabeça de cada um dos motoristas, que tombaram no chão inertes e tremendo. Tirolez, com a prática e a rapidez usual, jogou os três corpos dentro do carro, contando que o vidro enegrecido do carro evitasse surpresas envolvendo transeuntes. Sentiu apenas falta das motos policiais, e concluiu que provavelmente estariam naquele momento no Cantagalo, o que seria ruim se voltassem antes da hora. Mas Tirolez não podia esperar, e imediatamente tornou a caminhar de volta ao Mc Donald's.

Não demoraram mais que cinco segundos para Tirolez mapear a situação do Mc Donald's. Era um restaurante tradicional, onde no fundo dele ficavam os balcões de atendimento e a direita de quem entrava ficava a porta do banheiro e das dependências internas do restaurante. Naquele horário Tirolez calculou haverem pelo menos uns dez funcionários no máximo. Do fundo até a frente da loja ficavam diversas cadeiras e mesas, no grupamento padrão do Mc Donald's de uma mesa para cada quatro cadeiras. No exato momento em que entrou no restaurante além da comitiva do vereador, sua família e do próprio, tinham mais quatro mesas ocupadas. O mais próximo era uma espécie de reunião da terceira idade, formada por um quarteto de idosas. No meio da loja tinham duas mesas ocupadas por pelo menos um grupo adolescente misto, com quatro garotas e quatro garotos cada. No fundo, próximo ao banheiro, tinha um adolescente solitário, lendo revista enquanto saboreava seu sanduíche. O vereador e seus seguranças ocupavam três mesas do lado esquerdo da loja. Tirolez decide evitar maiores problemas e deixa cair na entrada do restaurante sua granada de fumaça, causando alvoroço na rua. "Incêndio! A tubulação de gás vai explodir!", ele berra, causando fuga em massa das pessoas do ponto de ônibus.

Dois seguranças, provavelmente mais experientes, percebem que há algo errado e sacam suas armas. "Abun D’bashmaya, Nitkadash Shmakh.", diz Tirolez, imediatamente sacando a metralhadora e despachando esses dois homens para o céu tão rápido que eles caem no chão ainda tirando as armas de seus paletós. Um terceiro abraça a mulher do vereador e corre protegendo-a indo em direção ao lado direito do restaurante. Um dos adolescentes, tomado por pânico, corre em direção a saída, mas Tirolez é mais experiente e o vê com perfeição. Sua mão direita larga a arma, saca a faca e com precisão a crava no meio da testa do jovem e a gira.

"Tete Malkutakh, Nihue Tzibyanakh.", diz Tirolez, vendo o jovem balbuciar suas últimas palavras, tremendo no chão com os olhos fora das órbitas em virtude da pressão causada pela faca. "Aykana D’bashmaya Aph B’ar’a.", continua falando enquanto com a mão que segura a metralhadora Tirolez mata o segurança que protegia a esposa do vereador e acerta a mulher em pontos não vitais, como pernas e braços. Os demais adolescentes tentam se esconder entre as mesas, mas são alguns são atingidos pelo fogo cruzado que começa entre os três seguranças restantes e Tirolez, que mascarado pela fumaça e pelos adolescentes apenas leva um tiro de raspão no ombro. Ele então larga a faca nos bolsos internos do sobretudo e em seguida saca a pistola sem o silenciador. Dá dois tiros no teto de isopor do restaurante, justamente em cima dos seguranças, que são surpreendidos pela queda do teto e desperdiçam diversos tiros. "Hab’lan Lakhma D’sunkanan Yaumana.", diz Tirolez, que não desperdiça seus tiros, e acerta uma rajada certeira nos três seguranças, que tombam mortos no chão.

Ele então vê os adolescentes se preparando para sair correndo e um a um os mata. "Uashbuk’lan Khau’bayn.", diz enquanto atinge uma menina de cabelos ruivos e aparência jovial e assustada, com um tiro certeiro na cabeça. A seguir acerta e mata outro rapaz, negro, com dois tiros no peito. "Aykana D’aph Kh’nan Shbakin L’khayabayn.", diz enquanto acerta o último adolescente com tiros nos joelhos e depois um tiro a queima roupa na cabeça. Agora restam das testemunhas somente os idosos, que para espanto de Tirolez aparentemente jazem mortos na mesa, provavelmente tiveram ataques cardíacos por causa do medo. Para ter certeza, Tirolez pega sua faca novamente, guardando a metralhadora, e esfaqueia a cabeça de um idoso de cada vez.

O sangue espirra no rosto de Tirolez e escorre por sua face, que apenas diz "Ula Ta'lan L’nis’yuna.", enquanto esfaqueia os idosos. O jovem que ainda está no fundo da sala, ajoelha e pede clemência, Tirolez sorri e ordena a ele que corra. Quando o rapaz está passando do lado de Tirolez, ele atravessa a barriga do garoto com sua faca. O rapaz cai girando no chão, gritando de dor. Tirolez é piedoso e estoura a cabeça dele com outro tiro. Percebendo que os funcionários do Mc Donald's se esconderam atrás da bancada, Tirolez saca a granada explosiva e a arremessa para dentro do restaurante. "Ila Patzan Min Bisha.", fala Tirolez, assistindo a explosão, que de tão forte faz com que pedaços dos funcionários voem pela loja, agora completamente destruída. Com o deslocamento de ar da explosão, o vereador, seu filho e sua esposa são jogados quase aos pés de Tirolez.

A criança chora copiosamente de dor, com uma marca de tiro na altura dos ombros, provavelmente alguma bala perdida de Tirolez a encontrara. A esposa do vereador parecia inconsciente, com braços e pernas perfurados sangrando muito. O vereador estava quase inteiro, apenas com alguns machucados e implorando pela vida de sua família. Tirolez então segura o fone de ouvido e escuta as ordens da Organização. Sem dizer uma palavra, e ignorando as súplicas do vereador, o assassino pega seu Magnum e o descarrega na criança. "Amen.", diz depois de disparar, ao mesmo tempo em que o vereador se debruça sobre o corpo de seu filho morto e chora. Tirolez então descarrega a outra magnum nas costas do vereador, que aparentemente morre ali mesmo. Depois disso saca a Injeção de seu sobretudo e a aplica na esposa do vereador, que treme muito por alguns segundos e de repente parece dormir.

O trabalho está feito. Toda a ação levou menos de dois minutos e Tirolez pôde ir embora tranqüilo, deixando Albano assumir o controle. Por via das dúvidas, antes lança a granada de gás lacrimogêneo e foge do que sobrou do Mc Donald's correndo. Apesar de escutar as sirenes dos bombeiros, Albano sabe que a polícia só chegará ao local precisamente cinco minutos depois de tudo, tempo suficiente para que ele esteja distante dali em algum lugar da Barra da Tijuca. Sua pressa em sumir é tão grande que ele entra no carro e desaparece sem nem mesmo conferir que ao mesmo tempo dois rapazes estão saindo cambaleantes, mas vivos, de dentro do Mc Donald's...

Um comentário:

  1. Agora que eu sei desse lugar vou ti apurrinahr para postar mais auhauhuahauha

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