Revelações de Jonas, Missão: Sexta Fase da Missão

Revelações de Jonas: Missão
Sexta Fase da Missão
Execução

Os corpos foram queimados nos minutos que se seguiram. Tirolez jamais perderia essa oportunidade, por mais que doesse sua perna em virtude do tiro que levara. Ainda tinha disposição suficiente para correr uma maratona se precisasse ou se ordenassem. Providenciou durante a queima que a Carne Moída ficasse em uma posição de destaque e deu-lhe um banho especial de gasolina para queimar melhor e por mais tempo.

Enquanto isso uma equipe da Organização providenciou uma substituição do carro queimado de Albano por um de seus outros dez carros. Como estavam próximos de uma das bases operacionais, a Ilha do Fundão, a substituição ocorreu em menos de dez minutos dando aos dois agentes tempo o suficiente para seguirem viagem rumo ao aeroporto ainda a tempo de acompanharem Amanda para Angra dos Reis. Fernando permaneceu o tempo todo calado, voltando a falar apenas quando entraram novamente no novo carro.
– Como você conseguiu sobreviver? - Perguntou Fernando, depois de muito tempo sem falar.
– Sorte e um pouco de habilidade. – Respondeu Albano.
– Habilidade? – Perguntou Jonas.
– Sim, treinei rolamento por muitos anos e fiz cursos de dublê de filmes de ação em Hollywood, com isso aprendi que tipo de roupa vestir e como preencher minhas roupas com química de escola.
– Roupas? Química de escola?
– Você realmente acha que eu vestiria um sobretudo num calor tropical só por causa de visual?
– Bem...
– Não, ele é preenchido com uma camada protetora que agüenta alguns tiros, e na camada superficial tem bolsas de plástico recheadas com sangue do diabo... Está vendo sangue em mim além do da perna?
– Não.
– É disso que eu falei... Sangue do Diabo é uma substância que se fazia em casa nos meus tempos de escola. Misturamos Lactopurga com amônia e temos um sangue falso muito convincente, mas que some depois de alguns minutos.
– Estranho...
– O que?
– Quem te vê com toda essa calma nem imagina que minutos atrás você estava queimando um monte de gente...
– É porque matei... Como te disse mais cedo, eu sou viciado em matar, e quando mato fico calmo demais.

Fernando se calou novamente. Já tinha visto e ouvido demais para aquela noite, e só queria terminar aquele serviço o mais rápido que pudesse. Primeiro uma qualquer que se achava a rainha da cocada preta, depois um tiroteio. "Preciso dormir logo", pensava Fernando quase dando cabeçadas na janela do carro.



Amanda aguardava impaciente pelo retorno dos agentes. Sua vontade era ter pego o jatinho assim que chegaram ao aeroporto. Mas não! Ela era obrigada a esperar por ordens expressas de Regina. Ao final de uma hora entediante os dois chegaram. Albano mancava e estava com uma das pernas coberta de sangue. O negro parecia estar bem. Amanda queria que o negro tivesse morrido. Ela odiava essa raça, e depois de iniciada continuava a odiar ainda mais.
– Saudades... – suspirou Amanda, diante dos outros agentes que a acompanhavam.
– Do que? – Perguntou o agente, estranhando a súbita mudança no tom de voz sempre arrogante de Amanda.
– De meu outro eu... Se fosse naqueles tempos não me sentiria suja. – Respondeu Amanda.
– O que você era antes? – Continuou o agente.
– Ku Klux Klan. – Afirmou Amanda, olhando com orgulho enquanto notava que Fernando escutara tal nome.

Fernando bem pensou em responder Amanda a altura, mas foi contido por um puxão de Albano em sua camisa, fingindo pedir auxílio para andar. “Não... Deixe o dela pra depois... Primeiro as ordens! Sempre as ordens!”, sussurrou Albano no ouvido de Fernando. O jovem negro precisou realmente se controlar para ao menos não dar um sonoro bofetão naquela mulher irritante, mas pelo olhar de Albano sabia que nada de bom viria. E pra evitar problemas passou o restante do tempo cantarolando músicas em sua mente pra escapar das provocações que escutaria durante a viagem.



Mesmo com todos os atrasos, os quatro agentes da Organização e Amanda ainda conseguiram chegar até o pequeno aeroporto de Angra por volta das quatro da manhã. Para evitar complicações nos ferimentos de Albano, o assassino foi direto para um hospital particular financiado pela Organização para tratar da perna. Fernando permaneceu na pousada onde se hospedaram o restante da madrugada e até o horário em que Albano retornou. Nitidamente aborrecido porque os médicos queriam que ficasse em repouso, mas Albano somente o faria após cumprir suas obrigações. Por volta das cinco horas da tarde do dia seguinte o telefone celular de Albano tocou. Ele e Fernando já estavam num táxi a caminho do aeroporto quando Regina fez sua ligação revoltada:
– O que diabos vocês estão indo fazer no aeroporto a essa hora?
– Bem, você disse para não sairmos de Angra... Ia te ligar do Aeroporto. – Respondeu Albano, relativamente ríspido.
– Pois então voltem para a pousada. Amanda irá encontrá-los dentro de meia hora. – Ordenou Regina, desligando o telefone em seguida.
– Droga. – Reclamou Albano, enquanto colocava o telefone no bolso.
– O que foi? – Perguntou Fernando, não gostando do tom de voz de Albano.
– Temos que voltar, aquela filha da puta da Amanda tem ordens da Regina para nós!
– Merda!

Imediatamente Albano ordenou ao taxista que os levasse de volta a pousada e em menos de vinte minutos estavam novamente no saguão do local. Amanda estava sentada no bar do hotel, bebendo um whisky e tragando um charuto provavelmente de Havana. Como sempre, ela estava acompanhada de seus seguranças, pelo menos oito seguranças dessa vez. Era estranho ver uma mulher com tal fisionomia tragando um charuto com tamanha facilidade, mas era exatamente isso que ocorria. E o charuto fedia tanto que o gerente do hotel sentia-se incomodado, mas por ela ser quem era deixava passar direto e fingia ignorar.

Os dois agentes da Organização sentaram-se diante de Amanda, puxando um banco de madeira cada. Albano puxou um cigarro e começou a fumar, fazendo questão de soltar à fumaça em cima de Amanda. Fernando pensou em sorrir com isso, mas pra evitar maiores discussões optou por ficar calado enquanto pudesse.
– E então? Diz logo... – Falou Albano, deixando transparecer sua irritação.
– E perder a chance de saborear o momento? – Respondeu Amanda, dando uma longa tragada no charuto e retribuindo o banho de fumaça de Albano. – Falo quando quiser, o interesse é de vocês... Se quiser espero o dia todo só pelo prazer de tê-los submissos ao meu lado.
– Devo lembrá-la que posso ligar para Regina a qualquer momento? – Disse Albano, com um sorriso no rosto e pegando o celular em seu bolso e começando a ligar. – Se por acaso suas atitudes prejudicarem a Organização, estou autorizado a... Você deve lembrar, não?

Amanda gelou e parou de fumar. Acenou aos seguranças que foram direto até o gerente e pediram a chave de um quarto. De chave entregue, um dos seguranças vai em direção aos quartos e os sete restantes foram Os três – Albano, Fernando e Amanda. – se levantaram e caminharam até esse quarto, acompanhados de perto pelos seguranças da mulher. No que chegaram, foram recepcionados pelo segurança que saiu na frente. Para entrar no quarto dois seguranças acompanharam Amanda e os cinco restantes ficaram no corredor em frente a porta do quarto. 

Não que não quisessem entrar, mas o quarto era pequeno para tanta gente. Dentro do quarto ficaram então três dos seguranças de Amanda, a própria, Fernando e Albano. Era um quarto típico da região. Apenas um armário simples, uma cama de casal e a porta do banheiro da suíte. Ao menos tinha uma enorme janela que dava para ver a Praia do Retiro. Amanda sentou-se na enorme cama e tornou a acender o charuto, ordenando aos seguranças que trouxessem a encomenda. Imediatamente um dos seguranças que ficou do lado de fora foi correndo em direção ao carro dela.
– Deve demorar uns cinco minutos... Podemos conversar enquanto isso... – Balbuciou Amanda, sem retirar o charuto da boca. – Você, crioulo, como conseguiu entrar na organização? Ouvir dizer que é biba... Como consegue não agarrar esse deus romano ao seu lado?
– ...
– É preta e muda? – Disse Amanda, continuando a provocar. – Deve ser o sotaque de Paraíba dele que te irrita, não? Eu também odeio essas merdas... Pretas, paraíbas... Essas porras tinham todas que morrer! Mas eu? Sou uma mulher perfeita! Tenho o dinheiro de meu marido pra me sustentar e um monte de político querendo meu rabo... Vou ficar cheia da grana em pouco tempo! E vocês? Vão encher o rabo de chumbo mais cedo ou mais tarde... Pelo menos a pretinha vai curtir.

Fernando fez menção de avançar e quebrar a cara de Amanda, mas ela foi salva pela chegada repentina do segurança que fôra até o carro. O rapaz trazia consigo uma pasta preta grande, no formato A2 e a colocou sobre a cama. Amanda a abriu e retirou dela algumas plantas avulsas. Fernando e Albano observaram os papéis com interesse e leram em diversos que se tratavam de material da EletroNuclear, a agência nuclear do Brasil. Eram todas as plantas da Usina Nuclear de Angra I. Sem entender do que se tratava, Albano e Fernando analisaram o material sem compreender a magnitude de tudo aquilo, até que Amanda recomeçou a falar:
– Bem, seus cérebros atrofiados não devem estar compreendendo... Essa é a missão de vocês.
– Missão? – Perguntou Albano, sem levar Amanda a sério.
– Sim, no dia 31 de dezembro desse ano, quando derem onze horas e cinqüenta e nove minutos, vocês deverão explodir todo o complexo nuclear de Angra I.
– Entendo. – Respondeu Albano, sem demonstrar muita preocupação.
– Dentro em breve as pessoas da organização entrarão em contato com os detalhes da missão, até lá serão felizes habitantes de Angra dos Reis.
– Essa era sua participação na missão? – Perguntou Albano.
– Sim, porque a pergunta? – Respondeu Amanda. – Eu deveria trazer e obter os planos e mapas de Angra I para vocês, depois estaria livre pra curtir a vida.
– Ótimo.

Angra I, um belo lugar, não? 
 
Antes que Albano pudesse fazer o que queria, Fernando sacou sua arma FiveSeven e disparou duas vezes acertando o peito de Amanda, que voou pela cama em direção a parede do quarto. Os seguranças tentaram ensaiar algum movimento, mas foram mortos por Tirolez que foi mais rápido e deu um tiro certeiro no joelho de cada um. Os dois assassinos rapidamente trocaram olhares e Fernando caminhou até Amanda, que estava caída no chão chorando cheia de dor.
– Dói, não? – Perguntou Fernando, enquanto recarregava a arma e se aproximava mais.
– Preto desgraçado... Preto desgraçado... – Falava Amanda, com as mãos no peito.
– Sabe, até te conhecer eu pensava duas vezes antes de matar alguém... – Continuou Fernando, até se aproximar de Amanda e poder sussurrar em seu ouvido. – O legal é que vou te destruir em definitivo, vês a sombra? Diz a ela que a “preta biba” te aguarda...

Os olhos de Amanda viram algo que não tinha percebido antes e ela tentou gritar por ajuda, mas era tarde demais. Fernando descarregou a arma na cabeça de Amanda, que no final dos disparos era apenas um enorme cadáver decapitado coberto de sangue e restos de crânio. Tirolez se aproximou de Fernando e colocou-lhe a mão direita sobre o ombro de Fernando. “Matar é viciante...”, disse Tirolez enquanto dava um último disparo sobre Amanda, cujo corpo ainda apresentava espasmos involuntários. Os seguranças foram poupados, não por piedade, mas porque eram membros da Organização, e conseguiram avisar Albano a tempo. Se tivessem demorado, com certeza teriam sido todos mortos. Minutos depois do assassinato, enquanto o corpo de Amanda estava sendo levado para o esquecimento, o telefone de Albano tocou, era Regina novamente:
– Você não consegue deixar de matar, não? – Perguntou Regina, com a voz carregada de ironia.
– Dessa vez não deu tempo... O calouro foi mais rápido que eu, quando vi já tinha dado dois tiros na vagabunda. – Respondeu Albano, fazendo questão que Fernando escutasse. – Qual a missão exatamente?
– Bem, vocês dois vão passar o restante do ano aí observando os hábitos de Angra dos Reis para na ultima noite do ano instalar um dispositivo que vai destruir a usina nuclear de Angra I.
– Posso saber o motivo?
– Não, apenas cumpra as ordens... Mas não se preocupe, o dispositivo tem um timer e ele vai explodir três horas depois que tiver partido, logo, terão tempo pra fugirem.
– Não me importo em fugir, apenas em cumprir a missão... A qualquer custo.


Os meses se passaram. De Maio a Junho de 2006 era tempo o suficiente para que conseguissem mapear toda a cidade e criar rotas de fugas que lhes permitissem fugir caso algo desse errado e para evitar atrasos se desse tudo certo. Fernando e Albano receberam informações o suficiente para saber que a explosão nessa área afetaria as duas usinas e que fatalmente todos numa área de pelo menos quinze quilômetros morreriam sem saber o que os atingira. Os demais, em um raio de pelo menos 100km, morreriam em conseqüência da nuvem de radiação.

Durante esse período os contatos entre Fernando e a Sombra cessaram. Jonas tentava todas as noites viajar até o desfiladeiro vermelho, mas não encontrava nem a Sombra quanto nenhum dos demais. Até mesmo as tropas de Dragon estavam ausentes. Em contrapartida, Albano todos os dias ligava para Regina e prestava relatórios sobre seus avanços na cultura local. Em diversas noites Fernando jurou ter escutado gemidos femininos e ter reconhecido a voz de Regina no quarto de Albano, mas desejando evitar problemas Fernando nem comentou a respeito.
E o tempo passou...


Dia 31 de Dezembro de 2006. Ao amanhecer o telefone de Albano tocou. Era Regina avisando que “os fogos chegariam a Angra por volta das duas horas da tarde”. O assassino avisou a Fernando do fato e precisamente às duas horas da tarde, um carro preto da organização chegou à pousada. De dentro dele saíram dois agentes carregando uma enorme mala de metal que deixaram aos cuidados de Fernando. O rapaz levou a mala, muito pesada, até o quarto de Albano e a abriram. Dentro dela tinham duas caixas cinzentas com um display negro apagado e um Pocket PC desligado. Sem entender o funcionamento do equipamento, Albano telefonou para Regina novamente, querendo entender o que faria.
– Estamos com os fogos... Mas como funcionam? – Perguntou Albano, direto e sem rodeios.
– Existe em cada dispositivo um botão azul. Esse botão ativa o contador de tempo dos explosivos e os deixarão em modo de espera aguardando uma confirmação à distância. Para essa confirmação, junto com os explosivos virá um PDA com dispositivo com comunicadores sem fim em diversas bandas, desde a Infra Vermelha a Wireless. O PDA é que vai fazer a sincronização entre os dois, ou seja, vocês ativam os dois explosivos, e o timer vai se iniciar, em seguida deve ativar a sincronização pelo PDA que vai fazer com que o contador de ambos se iguale tomando como base o dispositivo ativado primeiro. – Explicou Regina.
– E o que acontece se não ativarmos o PDA?
– O dispositivo ativado primeiro, explode primeiro... Simples assim. O contador funciona de modo independente, vocês apenas sincronizam a explosão com o PDA.
– Entendi, e qual o raio de explosão dessas coisas?
– De três quilômetros separadas, e de pelo menos 8km juntas... Sim, elas afetarão Angra II, se é essa sua dúvida... – concluiu Regina, desligando o telefone.
– Ordens são ordens. – Afirmou Albano, guardando o celular diante do olhar preocupado de Fernando. – E como soldados, as obedeceremos a qualquer custo. Qualquer custo.
– O que ela disse? – Perguntou Fernando?
– Desejou sorte, apenas. – Responde Albano, com sua franqueza tradicional.

Fernando aceitou a falta de informações de Albano e continuou estudando os explosivos. A única coisa que Albano explicou a Fernando foi que o botão azul servia para iniciar o timer das bombas, do resto nada disse. “Não vale a pena dizer a ele, isso não é algo que lhe cabe...”, pensou Albano ao terminar de mostrar o que fazer. Com esses últimos detalhes, apenas faltava agora executar o plano. Curtiriam um almoço como se fosse a última refeição e depois dariam conta dos últimos detalhes antes de iniciarem efetivamente essa missão.


Os planos de invasão da Usina de Angra I eram bons o suficiente e dentro do esperado pelo que a Organização sempre fornecia. A única exigência era que os explosivos deveriam ser colocados nos pontos desejados até as onze e quarenta da noite, no máximo. Qualquer atraso significaria fracasso total e os dois agentes pagariam pela falha. Albano e Fernando passaram o restante do dia verificando o equipamento. Para sorte de ambos era um dia frio e movimentado. Era bom estar frio porque tornaria mais suportável utilizarem os sobretudos da Organização, e a movimentação era boa porque ninguém repararia em dois indivíduos de sobretudo passeando pela cidade em plena festa de ano novo.

Para evitar problemas com engarrafamentos, ambos optaram por utilizarem motos, que rapidamente foram cedidas por uma das concessionárias locais após duas ligações para a Organização. Eram duas belíssimas motos da Harley-Davidson de 1948, idênticas, que haviam pertencido antes a Marinha do Brasil e foram vendidas como sucata a uma das concessionárias. Fernando sentia-se um deus sobre a moto, e até mesmo o sempre sisudo Albano parecia maravilhado pela oportunidade de pilotar tal raridade.
– Penso seriamente em ficar com ela depois da missão. – Comentou Fernando.
– Que bom. – Respondeu Albano, sem dar muita importância a empolgação do jovem rapaz.



Se olhos humanos pudessem ver seriam tomados por um completo horror. Além das nuvens, onde o céu é mais azul uma enorme massa negra sobrevoava a cidade de Angra dos Reis. Uma horda absurda de feras das sombras urrava ansiosa pelo primeiro badalar dando a elas total liberdade. A liberdade de se alimentarem de todas as pobres almas da face da Terra. Dentre elas uma se destacava. Sua forma era bestial, assemelhava-se com um imenso cachorro de olhos vermelhos e chifres enormes semelhantes ao de um bode. Sua boca tinha enormes presas de trinta centímetros de comprimento em média. Ele era inteligente como um predador observando sua caça e desejava muito saborear o espírito humano.
– Mestre... Mestre... Quando poderemos descer? – Perguntava um demônio de asas pequenas e corpo ainda menor, mas com olhos famintos.
– Em breve... Apenas devemos aguardar que as carniças cumpram sua missão, e então... Poderemos nos alimentar. – Respondeu o enorme ser, sem sequer dirigir o olhar à criatura inferior.

Não muito longe dali, em um pequeno hospital psiquiátrico do governo, a maioria dos pacientes berrava incessantemente. Dentre eles destacava-se um senhor de aproximadamente oitenta anos, chamado entre os seus de “Profeta”. Ele debatia-se violentamente contra as janelas de seu quarto, tentando fugir de algo que os médicos julgavam ser a loucura causada pelos fogos de fim de ano. Se os médicos pudessem ver o que o “Profeta” via, com certeza se juntariam a ele como os demais “loucos” fizeram.
– Eles estão a espreita! O capeta quer nossas cabeças! – Berrava o “profeta”. – Jesus! Tende dó de nós! Jesus!



Finalmente Albano e Fernando chegaram a porta das instalações da Usina Nuclear de Angra I. Devido aos problemas típicos de ano novo, os infernais engarrafamentos que ocorriam sempre e os muitos quebra-molas pelo caminho, mesmo indo de moto apenas chegaram no local por volta de oito horas da noite. Albano sacou de seu bolso dois relógios de pulso e os sincronizou, entregando-os a Fernando. Fernando pegou o relógio, o colocou no pulso e notou que não havia sincronização de horários, mas apenas um timer digital marcando o tempo que ainda tinham para ativar os explosivos. 

Os dois tinham todo o mapeamento da área na cabeça. Diversas vezes se passaram por estudantes para conhecer pelo menos os corredores da administração do prédio principal. Nada poderia dar errado, estava tudo contabilizado. Fernando seria responsável por colocar os explosivos no sistema de refrigeração do Reator, que ficava em um prédio anexo ao principal, e Albano invadiria o prédio principal e tentaria chegar até o reator para instalar o último explosivo. Se por acaso desativassem o explosivo principal, o acidente nuclear ocorreria por falta de resfriamento e se o inverso ocorresse, não precisariam interromper nenhum resfriamento, pois a explosão resolveria tudo. Se ambos explodissem, a missão estava perfeita e nenhum ajuste seria necessário, mas prudência nunca era demais. Albano até lamentava não ter mais explosivos.

Como o serviço de Fernando era dos mais simples, estava tudo calculado que quando faltassem duas horas para a ativação total do sistema, ou seja, apertar o último botão, Fernando estaria encontrando Albano no prédio da administração, exatamente na porta de acesso para a área de acesso restrito. Até aquele momento provavelmente Albano já teria feito a maior parte do serviço sujo e matado a maior parte das pessoas do prédio.
– É agora? – Perguntou Fernando, observando pela última vez as motos e toda a cidade de Angra dos Reis. – Se conseguirmos esse lugar nunca mais será o mesmo.
– Então devia ter tirado uma foto... Essa é a última vez que vemos a civilização. – Respondeu Albano, enquanto subia em uma árvore para cortar os fios de telefone da Usina.
– Por quê? – Perguntou Fernando, sentindo-se intrigado.
– Se destruirmos isso aqui, destruímos a civilização, pelo menos a Brasileira... E sendo a Organização do jeito que nós sabemos, acredito que não seja um objetivo apenas e meramente “terrorista”...
– Como assim?
– Pense, você é capaz de chegar a uma conclusão...

Fernando pensou, calado, alguns minutos. Minutos que Albano utilizou cortando todos os fios de telefonia que podia ver. Não interessava se cortasse o fio certo ou errado, mas sim que cortasse todos. Era fim de ano, e mesmo que a operadora local de telefonia fosse chamada para consertar algo, só atenderia no ano seguinte. Com os cabos cortados e a certeza eu tecnologia celular não funcionava naquela área por causa de espionagem industrial (Albano havia testado todas as operadoras de telefonia móvel antes, pra confirmar), o isolamento de Angra I era completo. Agora apenas faltava-lhe iniciar a invasão.

Albano procurou nos muros cercados de arame farpado uma parte que estivesse mais danificada pela maresia e nem demorou muito a encontrar. Nessas horas era ótimo poder contar com a incapacidade do Governo Brasileiro na gestão de segurança. Havia literalmente um buraco no muro, provavelmente feito para invadirem os bosques dentro dos limites das instalações. Era o tipo de sorte que lhes fariam ganhar pelo menos alguns minutos preciosos para cumprir a missão. Quando Albano começou a invadir o terreno, Fernando finalmente voltou a falar:
– Se for o que estou pensando... Será terrível!

Albano apenas consentiu com a cabeça e sorriu.

9 comentários:

  1. Rapaz que conto grande heim..... mas é show de bola parabens. Apesar de q gosto mais dos seus políticos. abs!!

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  2. parabens pela iniciativa de por contos aqui. so precisa tempo pra lê-lo todo, mas quando virar livro me avisa

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  3. Tudo bem, agora enrole menos, e escreva mais, e mais rápido, pra poder ler logo o fim da estória!

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  4. Caraca o conto ta massa, mas ta grande pra caramba ein. rsrs
    Mas show..

    Blog Esponja - Absorvendo Informação.
    www.blogesponja.net

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  5. Opa,blz?
    O seu texto é muito fácil de ler,muito bom,parabéns.
    Só consegui ler o 1º conto,dado a extensão do blog,mas já da pra sentir a qualidade da arrativa.
    Muito criativo.

    Abraços

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  6. Gosto demais de blogs de contos, pouca gente tem coragem de postá-los na net, por causa do tamanho.

    parabens

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  7. Excelente. Um melhor do que o outro. espero ansiosamente o fim da saga.

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  8. muito bom os seus contos!


    www.h4ck3rik.com

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  9. Bem grande mesmo,
    infelizmente não tive tempo de ler ele todo, depois volto para terminar de ler, pois é interessante.

    Abração

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