Olhou para o copo de café sobre a mesa.
Não
conseguia tocá-lo. Seu corpo implorava por aquelas gotas de energia e
em algum lugar tenebroso em sua mente o café parecia transmutar-se em
uma lata de espinafre e a voz de Olívia Palito ecoava em sua mente
pedindo socorro.
Não queria tomar o café. Não era certo em sua
mente que toda sua produtividade naquele dia oneroso de trabalho estive
ligada intimamente àquele coquetel de cafeína proveniente da sempre
amiga cafeteira automática. Aliás, olhava para a máquina de café
colocada estrategicamente a dez passos de sua mesa e se indagava quando
ela chegara.
Naqueles tempos árduos a máquina de café tinha uma
participação em sua vida maior que sua própria cama. Conseguia perder a
conta de quantos copos tomara, mas sabia exatamente quantas horas
dormira. Uma proporção inversa de sono e litros. Tão pouco dormia que as
mãos de quatro dedos do Popeye conseguiriam contar em uma apenas. E
sobrariam dedos.
Popeye. Café. Espinafre. Forças.
Voltara a
pensar no Popeye. Seu lábio sentia o cachimbo do velho marinheiro e o
copo do café estava mais verde do que nunca. Tinha que se manter forte,
resistir. Ele era mais forte que o café. Era.
Sempre mais forte.
Sempre.
Sempre bebendo café.
Café era vida e morte, severina e matutina. Mais que tudo, mais que si próprio. E menos. E...
Opa!
Que
tolice invadira sua mente? Onde imaginara que cederia? É o décimo
primeiro mandamento: café antes do cigarro. Se deixasse de tomar café,
deixaria de fumar. "Já não trepo por causa do trabalho, se largo o vício
para que vivo?", questiona-se em voz tão alta que alguém duas baias
distante pergunta se é com ele. E é ignorado.
Ele reluta, um
pouco de sobriedade sobrepõe-se ao vício. Ele fecha os olhos e respira
fundo. Quando os abre o copo desaparecera. Mágica. E desespero. Apenas
escuta o som de alguém sugando a última gota na baia ao lado.
"O que foi? Vi que não queria e eu não ia desperdiçar o último café... A máquina quebrou há pouco. Soube?"
O que aconteceu depois?
Ô vício terrível!
ResponderExcluirAinda bem que não sofro disso.
P.S.: dê uma checada na penúltima linha: "Vi que não queria eu não ia desperdiçar o último café... "
Pois é, eu sofro... (rs)
ResponderExcluirNão sei como as pessoas conseguem gostar disso, e até ser viciadas nisso
ResponderExcluirE o que aconteceu depois?
ResponderExcluirSe fosse eu: "Surtou"
Sou movida a café. É um vício incontrolável.
E que maravilha de crônica. \O/
Difícil imaginar a postura do viciado.
ResponderExcluirEu não conseguiria fazer nada. Nada mesmo!