Como funcionou o processo de seleção para mestrado em Portugal?


Uma pergunta que talvez seja recorrente e que não encontrei em muitos sites é justamente sobre como funciona um processo seletivo de Mestrado em Portugal.

A gente encontra com certa facilidade até como faz para conseguir os Vistos de Trabalho ou os Vistos de Residência.

Porém a opção de imigrar para estudar o caminho é um pouco diferente e não necessariamente mais fácil (na verdade é até mais demorado, afinal de contas, antes de chegar no ponto de se candidatar você precisou pelo menos se formar).

Explicarei, não muito resumidamente, por aqui.

Até pouco tempo atrás existia um projeto chamado Ciências Sem Fronteiras em que estudantes brasileiros tinham a opção de realizar disciplinas extras em universidades fora do Brasil bastando serem aprovados em exames de proficiência em inglês e participarem de processos seletivos. Infelizmente não era uma política de estado e esse projeto se encerrou e atualmente a possibilidade de conseguir financiamento por parte de fundações e outros fundos de apoio a ciência são bem raros (não impossíveis, diga-se, porque existem projetos, porém raros e restritos a determinados condicionantes que não cabem aqui).

Portanto tenha em mente pra começo de conversa sobre estudar em Portugal de partir do seguinte princípio:

Não conte com ensino público superior gratuito para estrangeiros nas universidades públicas

Você, repito, pode até eventualmente conseguir uma Bolsa de Estudos ou alguma parceria em fundações, porém não conte com isso logo de cara. É difícil e demanda um conhecimento que muitas vezes não temos no ambiente escolar ou familiar salvo quando damos a sorte de esbarrar nas redes sociais com divulgadores científicos que abordam o tema.

No Brasil processos de mestrado nas universidades públicas são 100% gratuitos e muitos até já incluem a possibilidade de bolsa no próprio edital. Esquece isso em Portugal, se alguém disse "ah, mas fulano conseguiu" provavelmente é alguma modalidade baseada muito mais em Qi acessível para aqueles 0,000001% que credita-se mais a uma Lenda Urbana que a realidade em si.

Se vai candidatar-se a um Mestrado escolha a universidade de sua preferência.

Seja no Brasil ou fora, procure saber o que quer e onde quer

Em Portugal existem excelentes universidades públicas e privadas e a época de candidatura costuma ocorrer no meio do ano, mas pode variar e com a Pandemia essas datas mudaram muito (atualizarei o post no decorrer da normalização dessas datas), então o ideal é checar periodicamente nos sites dos institutos que oferecem vagas.

Como me candidatei a Universidade do Minho limitarei minha narrativa a minha experiência, entretanto se a sua foi diferente ou tem informações a acrescentar os comentários estão no final da postagem. Não encare como regra porque cada edital é diferente e pode mudar de um ano para outro.

Então sugiro fazer um checklist mental (ou não) abordando pelo menos essas questões:

  1. Quero fazer mestrado? (sério, é bom ter certeza disso)
  2. Qual minha área de atuação ou minha linha de pesquisa? (muito importante saber, explico abaixo)
  3. Onde quero estudar? (dar tiro pra todo lado é legal quando tem dinheiro sobrando, caso contrário acerte bem o alvo)
  4. O quê quero estudar?
  5. Como posso tornar isso realidade?

Minhas respostas foram:

  1. Quero;
  2. Minha linha de pesquisa é na área de estudo de comportamento de usuário e catalogação;
  3. Quero estudar na Universidade do Minho, por motivos pessoais (meu avô era natural da região norte de Portugal, mais especificamente do Porto);
  4. Quero continuar na minha linha de pesquisa e procuro uma grade de matérias que se adeque as minhas necessidades, mesmo que parcialmente;
  5. Vou organizar a documentação e juntar dinheiro, assim que tiver condições me candidato.

Atente para o item 5.

Vou dizer aqui logo de cara quais documentos são extremamente necessários já possuir contigo para que sua candidatura não se perca caso seja aprovado:

  1. Diploma - Devidamente autenticado no cartório e com o apostilamento de Haia realizado;
  2. Histórico Escolar Oficial - Devidamente autenticado no cartório e com o apostilamento de Haia realizado;
  3. Declaração de sua universidade informando qual sua média final e a escala de aprovação, também autenticada em cartório e com apostilamento de Haia realizado;
  4. Passaporte, com validade de pelo menos 3 anos;
  5. Carteira de Vacinação, informando que tomou a vacina antitetânica e a validade;
  6. Cartão de Crédito Internacional, para pagamento de taxas.

Apostilamento de Haia se trata de um modelo de autenticação de documentos internacional. Se você se formou em uma universidade pública como funcionários públicos possuem fé pública no geral não é necessário autenticar o documento (mas recomendo fazer isso com seu diploma), mas alguns cartórios podem insistir nisso (o meu não insistiu). A vacinação antitetânica é exigida, e tudo leva a crer que provavelmente ano que vem incluirão o certificado de vacinação do coronavírus.

Tenha na cabeça que para conseguir estudar em qualquer universidade fora do país você precisa preencher requisitos financeiros para ser aprovado para entrada. Em Portugal é necessário já saber que precisará ter dinheiro acumulado em uma conta no Brasil com o equivalente a 12 meses de salário mínimo português (atualmente algo em torno de setecentos euros mensais) e calcule além disso que precisará do dinheiro para pagar as mensalidades (em Portugal chamam de propinas), taxas de matrícula e documentação para tirar o visto de estudante ainda no Brasil e para refazer todo o processo de visto em Portugal.

Mas não vamos falar de dinheiro, deixarei isso para outro post sobre o assunto referente ao visto.

Fez a escolha? Se organizou financeiramente? Arrumou a papelada?

E isso me leva ao primeiro ponto, o edital.

Minha área de formação é na Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação. Como já sei que Biblioteconomia não é exatamente uma área muito ampla precisaria me adequar em encontrar um mestrado cuja formação considerasse um pouco do que quero aprender. Minha área de formação é no campo da informação, então eu procurei na internet por áreas que tivessem alguma coisa a ver com minha formação.

No Brasil o curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação, dentre sua gama de aplicações, se vende como uma ciência social aplicada. Fui checar então no Instituto de Ciências Sociais de universidades estrangeiras se me encaixaria.

 

 Como podem ver na imagem (ou clicando no link se quiser mais informação) a oferta de linhas de conhecimento para o mestrado é bem ampla. Eu cliquei em cada uma delas, analisei as ofertas acadêmicas de cada curso, suas disciplinas e até mesmo alguns trabalhos acadêmicos que me permitiram decidir com segurança qual escolheria para me candidatar.


Na página informa as datas em que ocorreram o último concurso de acesso. Eu me candidatei ao Mestrado em Ciências da Comunicação - Investigação para o ano letivo de 2021/2022, que como podem ver a última fase de candidatura desse concurso já se encerrou. 

Quando chegar a sua vez e tendo a instituição de ensino escolhida você precisa periodicamente acompanhar a página de divulgação de mestrados. Cada universidade ou centro de ensino tem seu próprio modelo de informar, não existe exatamente um padrão.

Recomendo além de acompanhar periodicamente direto nas páginas dos institutos de ensino também seguir as instituições nas redes sociais. Ao contrário do que acontece no Brasil as páginas costumam ser bem alimentadas e atualizações regulares informando dos mais diversos temas inclusive inscrições.

Essa página apontava para um link com informações para a realização de inscrição para o mestrado, que é este aqui:

https://alunos.uminho.pt/PT/candidatos/Mestrados/Paginas/default.aspx 

Para me matricular precisei criar um login e senha para participar do processo seletivo. E pagar a taxa de inscrição de 30 euros com cartão internacional.

Nesse ponto é importante lembrar da papelada que mencionei acima.

Pra me candidatar precisei anexar no formulário de inscrição os seguintes documentos (digitalizados e/ou em pdf) que exigiam no edital:

  • Certidão da licenciatura, com discriminação das disciplinas realizadas e respetiva classificação final. Os candidatos detentores de um grau estrangeiro não reconhecido em Portugal devem instruir a candidatura com uma declaração oficial emitida pela Instituição de Ensino Superior onde foi concluído o grau académico, da qual conste o grau académico e a respetiva média final ou coeficiente de rendimento, bem como a escala de avaliação utilizada, incluindo ainda referência à classificação mínima a que corresponde a aprovação na escala de classificação final estrangeira. A não comprovação da classificação final do grau académico nos termos acima referidos determina a atribuição da classificação final de 10 valores (na escala nacional entre 0 e 20 valores). 
    • Traduzindo: Diploma e Histórico Escolar. E lembra da declaração que mencionei acima? Essa declaração mesma.
  • Para habilitações obtidas no estrangeiro, à exceção de documentos emitidos por Instituições de Ensino Superior de países da União Europeia, os documentos devem ser autenticados pela autoridade diplomática ou consular portuguesa no local ou legalizados pelo sistema de Apostila nos termos da Convenção de Haia. O mesmo deve acontecer relativamente às traduções de documentos cuja língua original não seja espanhola, francesa ou inglesa (obrigatória a tradução para uma destas línguas). 
    • Realizar o apostilamento de Haia em todos os itens da exigência acima.
  • Curriculum Vitae detalhado. 
    • Faça um currículo incluindo tudo que fez na sua vida profissional e educacional, se tiver relação com a área a que se candidata. Se seu trabalho de conclusão de curso foi apresentado em algum congresso é aqui que seu currículo Lattes vai começar a brilhar. Grave em pdf.
  • Documento comprovativo da situação profissional, quando aplicável. 
    • Já trabalha ou tem referências profissionais? Peça para seu chefe redigir uma carta de recomendação elencando suas qualidades profissionais. Essa carta será importante no futuro. Se teve boa relação com seus professores na faculdade é hora de pedir uma carta de recomendação também, preferencialmente no papel timbrado da instituição. Digitalize os documentos e mande o pdf no formulário de inscrição. 
  • Carta de autoapresentação com indicação das motivações de candidatura e os interesses e expetativas quanto à realização do mestrado. Deve ainda indicar o Ramo e Área de Especialização (quando aplicável) a que se candidata (não deverá ultrapassar a extensão de uma página)
    • Sempre se perguntou para que serviriam as redações da escola? Eis a resposta. É hora de contar um resumo sua história profissional e acadêmica compiladas em apenas uma página. Coloque o que tem de mais relevante.

Não hesite em obter essa documentação e não deixe pra depois, porque as vezes não terá um.

Eu não tive essa visão da necessidade e coloquei toda a documentação que eu tinha comigo, ou ao menos achei que tinha colocado. Na primeira fase pequei nos seguintes itens:

  • Apostilar a documentação (simplesmente escaneei e mandei);
  • Não providenciei o documento emitido pela instituição de ensino informado escala de avaliação.

O resultado não podia ser outro:


Exatamente, fui reprovado.

Chorei, me desesperei e quase desisti, aí fui me informar do motivo da reprovação e descobri que a documentação reduzira meu placar. Resolvi todos os problemas, importunei minha universidade para conseguir a declaração em plena pandemia e a tempo de me inscrever para a segunda fase estava com todos os documentos apostilados e com a declaração oficial também apostilada.

Paguei nova taxa de inscrição e me candidatei novamente.

Era agora ou nunca.

Foi agora.


Não só fui aprovado como tive uma excelente nota considerando que meu diploma não é exatamente da área de Ciências da Comunicação o que me colocou entre os alunos estrangeiros como o melhor colocado - não que signifique para algo além de alimentar o ego.

Dias depois do resultado publicado recebi as instruções de matrícula, com um novo login e senha agora de aluno da Universidade do Minho e paguei a minha primeira taxa da faculdade.

A famigerada taxa de matrícula no valor de 126 euros.

Mas era isso. Aprovado e matriculado.

Agora só precisava partir para a próxima luta:

Enfrentar a burocracia para obtenção do visto

Mas isso fica para outro dia, até porque essa batalha ainda está acontecendo...

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