Revelação de Jonas: Missão
Segunda Fase da Missão
O Adeus
Fernando caminhou rápido até o Metrô e em pouco tempo chegou em casa, tomou banho, e os trapos de momentos atrás foram substituídos por roupas do mais fino trato. Era uma espécie de obrigação que martelava em sua cabeça, a necessidade de se vestir bem para o que faria. Lembrou de pegar seu celular e desceu novamente a Rua Siqueira Campos apressado em direção novamente ao Metrô, isso por volta de onze e meia da manhã. A excitação do momento era tão grande que esquecera completamente de Renato ou de qualquer fato ocorrido no dia seguinte. Mas de uma coisa não se esquecera, de comer.
Assim que chegou a estação da Carioca, Fernando saltou do vagão onde estava e se dirigiu rapidamente para um de seus restaurantes favoritos no Centro. O restaurante ficava no subsolo do Ed. Avenida Central, chamado pelas pessoas tipicamente de somente 156, seu número, e o local era famoso por ser um dos pólos de informática do Estado do Rio de Janeiro. O restaurante nada tinha a ver com informática, exceto pela associação devido a localização, e sua comida era barata e saborosa, exatamente do que Fernando precisava naquele momento. Serviu-se de mais do que o necessário e somente depois de quase uma hora saiu do restaurante, tendo gastado pelo menos trinta reais em alimentação, o que poderia ser considerado até demais dado os preços do local.
Eram quase uma da tarde quando finalmente saca seu telefone celular e decide discar para o número. Sem pensar muito ele simplesmente digita todos os números de uma só vez e nada acontece, a não ser uma informação da telefonista a respeito da inexistência do número. Torna a estudar novamente seu papel, e arrisca um palpite óbvio, e ao mesmo tempo em que o fará se sentir idiota se funcionar. E funciona. Fernando disca os dois primeiros grupamentos de quatro dígitos e aguarda que a ligação se complete. Em seguida, quando uma música começa a tocar, ele digita rapidamente os dígitos restantes e então a música para. Fernando imagina que a ligação vá cair e terá a confirmação de que tudo não passou de loucura, porém segundos depois uma mulher atende friamente do outro lado.
– Como conseguiu nosso número? – Pergunta a voz feminina, sem a menor delicadeza.
– Acreditaria se dissesse que sonhei com ele?
A mulher se cala e em seguida uma gravação eletrônica é escutada. A estranha voz sintetizada explica como chegar até um prédio na Av. Presidente Vargas, como proceder e, principalmente, que Fernando deveria comparecer em pelo menos três horas caso contrário seus dados seriam invalidados. Sabendo que chegaria rapidamente no endereço, Fernando respirou aliviado por não ter ido ao Centro a toa. “Imagina se esse endereço ficasse em Marechal Hermes...”, indagou consigo mesmo enquanto caminhava tranqüilo pela Av. Rio Branco até seu destino...
...Renato acordou muito tempo depois em algum lugar completamente escuro. Pelo menos era o que sentia, pois por não enxergar absolutamente nada, parecia mais estar inconsciente ainda. Lembrava vagamente de uma pesada mão lhe agarrando por trás e do cheiro forte do sonífero. “O que está acontecendo...”, indagou, enquanto sua visão se acostumava pouco a pouco com o ambiente e novamente obtinha consciência de seu corpo.
Pra começar, Renato foi amordaçado e amarrado a uma cadeira que pelo que podia sentir, deveria ser no mínimo idêntica as cadeiras elétricas. Estava preso pelos pulsos, pés, tronco e pelo pescoço. Por sinal, a amarra do pescoço era o que mais lhe incomodava, dado que dificultava a respiração. Com os segundos passando, conseguiu finalmente ver que estava em uma sala apertada e completamente deserta com uma porta de madeira bem em frente de Renato. Os únicos objetos presentes eram a cadeira e uma mesa de madeira simples, que ficava distante o suficiente de Renato para impedir surtos de heroísmo.
Mesmo assim Renato tentou balançar inutilmente a cadeira, constatando que a mesma era chumbada no chão. Quem quer que o tenha prendido ali, assistiu filmes de fuga o suficiente para tornarem aquela situação impossível de ser superada. A Renato somente lhe restava esperar, mas nem esperou muito. Após meia hora, ou algo assim, de espera, a porta se abriu e uma luz branca iluminou toda a sala, ofuscando a vista de Renato, já acostumada com o escuro. De dentro da sala entrou um homem de aparência estrangeira usando óculos escuros e vestindo um sobretudo negro.
– Ótimo, está acordado... – Lamentou o homem, colocando a mão no bolso interno do sobretudo e tirando um frasco e um pedaço de pano.
– Calma... – Interrompeu Renato. – Antes me diz onde estou!
– Quem você pensa que é pra me perguntar coisas?
Sem dar chance a Renato de argumentar, o homem coloca todo o conteúdo do frasco no pano e cobre a boca e o nariz de Renato. Entre morrer prendendo a respiração e respirar, Renato cede a seu próprio organismo. A contragosto respira o maldito narcótico, e em questão de segundos apaga novamente e em sua mente uma voz começa a falar com clareza, uma voz que com certeza Fernando reconheceria até mesmo debaixo d’água:
– Temos um assunto a tratar...
...Em exatos dez minutos Fernando seguira todas as instruções dadas pelo telefonema. Estava nesse exato momento no prédio próximo ao DETRAN, na Avenida Presidente Vargas 1056. A sala era a de número 1304, ou simplesmente 04. Sem demonstrar toda a ansiedade que sentia, e um medo pavoroso de que tudo desse errado, Fernando subiu o elevador e foi até esse determinado andar, que por sinal, era o último. Assim que o elevador parou e suas portas automáticas abriram, uma luz branca acionada por sensores se acendeu.
Fernando viu uma pequena sala, com no máximo quatro metros quadrados, mobiliada somente por uma cadeira de espera na parede a sua esquerda e com toda a parede revestida por espelhos em perfeito estado de conservação. Até mesmo a porta do elevador nesse andar era completamente espelhada. Sentindo-se incomodado com a visão de tantos reflexos, Fernando sentou-se no banco e abaixou a cabeça, esperando por algo. Para relaxar, passados cinco minutos de completo tédio, retirou seu celular do bolso e começou a se distrair com os joguinhos de seu telefone. “Pelo menos tem ar condicionado...”, pensava enquanto o tempo passava.
Pelo menos duas horas algo de diferente aconteceu. Fernando já pensava seriamente em desistir e ir embora quando uma das paredes se deslocou para a esquerda, revelando uma segunda sala interna, onde tinham mais cadeira, um corredor e na parede a direita de Fernando uma mesa de secretária com uma mulher negra de aparentemente vinte e seis anos atendendo telefonemas. Ao escutar sua voz, Fernando percebeu que se tratava da mesma pessoa que segundos atrás atendera-lhe no telefone.
– Boa tarde senhor Fernando. – Disse a mulher, puxando uma ficha corrida de pelo menos cinco páginas e fazendo questão de mostrá-la de um ângulo que permitisse a Fernando ver que continha várias fotos suas. – Pelo que vejo chegou rápido... Desculpe a demora, mas antes que pudéssemos permitir sua entrada em nossas dependências, precisamos checar seus dados.
– Como fizeram? – Perguntou Fernando.
– Online, oras... – Respondeu a secretária, como se duvidando da ignorância do jovem. – Hoje em dia tudo pode ser encontrado na internet... Veja, você não possui fotolog?
– Tive...
– Bem, temos todas as fotos que publicou esses últimos anos... E por aí vai, demoramos em média duas horas para conseguir sua ficha completa pelos mecanismos de busca, ou você acha mesmo que o Google só pratica filantropia?
– Nunca pensei nisso...
– Bem, vamos ao que interessa, você sonhou quando com o número de nosso escritório de advocacia?
– Desde que saí do hospital... Sabe, quase morri...
– Ah sim, sabemos disso também. Suas chapas são interessantes, principalmente as de sua cabeça. – A mulher nesse momento deixou escapar um sorriso nos lábios que causaram em Fernando um estranho arrepio na nuca. – Diga-me, ainda continua com as mesmas preferências que antes ou isso também mudou?
– Preferências?
– Nada... Esqueça. – A mulher mudou de expressão e se aborreceu, não com a resposta de Fernando, mas em não ter certeza se ele era ainda homossexual. Se não fosse, gostaria de saber se sua aparência firme e forte era apenas visual. Fernando, obviamente, do pouco que entendeu da insinuação da mulher, se fez de desentendido. – Bem, Regina o aguarda no final do corredor que existe logo atrás de minha mesa, entre na porta sem bater... Ela o aguarda. E leve a papelada com você.
A mulher então colocou os papéis que segurava em um envelope pardo no formato A3, e entregou esse envelope a Fernando. Fernando agradeceu a ela pela cortesia e avançou pelo corredor. No caminho, tomado pela curiosidade, tateou um pouco o conteúdo do envelope e constatou que não tinham somente aquelas impressões em seu interior, as chapas que tirara quando saíra do hospital estavam todas ali. Não as originais, mas cópias muito bem feitas. “Espero que não tenha o dedo do Dr. Felix nisso...”, pensou enquanto se aproximava da sala de Regina.
Fernando entrou na sala de Regina tão imerso em pensamentos que nem percebeu o tamanho da porta e toda a sua riqueza de detalhes. Do mesmo modo não reparou nas estátuas angelicais e nem mesmo nos livros. Estava mais interessado na linda mulher que estava logo atrás da imensa mesa de mogno daquela sala, a própria Regina. Regina vestia um lindo blazer negro e seus cabelos estavam com um corte que destacava seus lábios e faziam seus seios fartos parecerem ainda maiores. Fernando, que há muito parara de se espantar com suas novas preferências, fervia por dentro imaginando-se deleitando-se com suas curvas.
– Eu sei que sou linda. – Falou Regina, asperamente, percebendo os olhares maliciosos de Fernando que rapidamente desapareceram dando lugar a um susto absurdo consigo mesmo. – Meu nome é Regina, e dispenso suas apresentações, já sei tudo sobre você... tudo que interessa.
– Desculpe... – Disse Fernando.
– Não precisa se desculpar, eu sei que são lindos. – Ao dizer isso, Regina tateou os seios e desabotoou o blazer, deixando-os à mostra.
– ... – Silenciou Fernando, chocado e ao mesmo tempo deliciado com tudo aquilo.
– Quer tocá-los? Pena que é apenas carne... – Ao dizer isso, Regina abotoa o blazer e se senta, mudando de silhueta e dando lugar a um rosto frio e repleto de ódio. – Não viemos para fornicar, não é SanoDji?
– Então já sabe... – Respondeu Fernando, exatamente do modo como se lembrava que a Sombra o disse para dizer, e, para seu espanto, somente se lembrava disso a medida que os segundos passavam e precisava desses dados.
– Claro, você tem certeza do que diz ser?
– Tenho, deseja uma prova direta?
Fernando então tirou a camisa por instinto e virou de costas. Não sabia o que estava mostrando a mulher, mas sabia que deveria fazê-lo. A mulher respirou satisfeita, e ordenou que colocasse a camisa novamente. Fernando novamente colocou a camisa e respirou aliviado. O que quer que tenha feito, surtira resultado. “Quando chegar em casa preciso ver o que exatamente tenho nas costas...”, pensou consigo mesmo, assombrado.
– Perfeito. – Comemorou a mulher. – Vejo que definitivamente é um de nós, mas ainda assim, preciso de sua lealdade... Antes do que tenho para te dizer.
– Que tipo de prova? – Perguntou Fernando.
– Aguarda e verás. – Disse Regina, apertando um botão em sua mesa, que ativou a comunicação interna via viva voz. – Cláudia, me chama o Albano, diga a ele que nosso Iniciado está pronto.
– Tudo bem. – Respondeu a voz. – Ele está impaciente na porta aguardando e me mandou várias chamadas de rádio.
– Perfeito.
Sem dizer mais nada, Regina pegou dentro de sua mesa uma lixa de unha e começou a cantarolar algumas músicas da Bossa Nova ao mesmo tempo em que utilizava a lixa. Fernando, um pouco mais calmo de tudo aquilo, se permitiu observar a sala e finalmente percebeu os dois altares dos anjos e os dois livros estranhos. Por um instante pensou em caminhar até um dos livros, mas algo em seu ouvido lhe disse para permanecer parado e aguardar. Em pouco mais de dois minutos, a porta da sala de Regina se abriu. Fernando viu então entrar um homem alto de aparência estrangeira vestindo um pesado sobretudo negro, e sem suar. Fernando não conseguia ver os olhos do homem, que estava utilizando óculos escuros, mas tinha certeza que era o foco de toda a atenção dele. O homem contornou a sala e cochichou algumas coisas com Regina, que sorriu feliz. Então Regina mais uma vez colocou a mão nas gavetas de sua mesa e dela retirou o jornal daquele dia, com a manchete a respeito de Fernando e Renato terem sobrevivido ao massacre do Mc Donald’s.
– Devem ter corrido muito. – Falou Regina, deliciando-se com o olhar de desespero que naquele momento aparecera em Fernando. – Acredito que deve estar reconhecendo o homem ao meu lado, não?
– Não estou. – Disse Fernando, sem mentir, pois daquele momento pouca coisa vira ou sequer lembrava.
– Bem, ele fez todo aquele serviço, o nome dele é Albano. – Disse Regina, vendo Fernando estender a mão para cumprimentar seu melhor soldado para simplesmente ser ignorado. – Bom saber que se gostam...
– O que ele tem a ver com isso tudo? – Indagou Fernando.
– Ele trouxe a oferenda para seu teste... Se estiver disposto a ser testado.
– Caso contrário?
– Albano carrega consigo uma arma carregada, diga “não”, e seus miolos farão parte da decoração, diga “sim” e seja testado.
– O que está acontecendo? Precisam realmente disso? – Ao dizer isso, Fernando cambaleou até um dos livros, fingindo estar transtornado.
– Se der mais um passo vai perder os joelhos. – Interrompeu o homem, interrompendo qualquer reação de Fernando, que simplesmente gelou e travou.
– O que vocês querem comigo? O que são vocês! – Berrou Fernando, deixando-se levar pelo medo.
– Somos a Organização, simples assim. – Respondeu Regina, guardando sua lixa de unha. – E você faz parte dela desde que despertou naquele dia no hospital, só está ficando ciente disso agora... Vamos resumir tudo, “Fernando” está morto, agora somente temos SanoDji e você nos pertence.
– Nunca!
– Ah sim... Tanto nos pertence que ouviu nosso chamado e veio que nem um cachorrinho ao chamado do dono. Nós o trouxemos a Terra com um objetivo e você há de cumpri-lo ou morrer em virtude deste.
– Terra? Por acaso vocês são loucos?
– Loucos? Não fomos nem eu e nem Albano quem sonhamos com telefones e ramais, e viemos parar aqui sozinhos. A escolha foi sua, livre-arbítrio, entende? Você no fundo no fundo sabe que essa é a verdade...
Fernando aquiesceu. Ele sabia que as palavras de Regina eram completamente verdades, mesmo que ela estivesse errando seu objetivo. Estava novamente questionando demais as coisas e se não começasse a agir mais com a razão e menos com o coração, acabaria morto mais uma vez em menos de um ano. “Agora é contigo Jonas...”, pensou enquanto se deixava levar pela aura do ambiente, que finalmente sentia e deixou que sua própria aura o preenchesse. Regina no mesmo instante sorriu satisfeita, percebendo que ao menos o jovem não era um tratante, mas que mesmo assim precisava ser testado. Um nome então saltou na mente de Fernando, que imediatamente o falou.
– Abados, quando começamos? – Perguntou Ferrnando.
– Que bom que se lembra... Bem, começamos depois que testarmos o quão desvinculado das memórias e desejos de sua carne está.
– Devo transar com você? – Perguntou Fernando, sentindo-se em parte satisfeito por poder usar esses termos.
– Não me referi a esse tipo de carne, e mesmo que a idéia me agrade, ainda não. – Fernando reparou então que Regina olhou para Albano de modo discreto, mas olhara. – Você deve exterminar algo de seu passado, Albano o guiará até a sala da libertação.
Albano então colocou-se do lado de Fernando e apontou para a porta da sala. Fernando o acompanhou pelo corredor até chegarem diante de uma sala. Albano puxou uma chave e abriu a porta, revelando um corredor com isolamento acústico dos melhores, feito em isopor com acabamento em carpete. “Precisamos ser discretos sempre, essa é a ordem.”, instruiu Albano, reparando que Fernando estava estranhando todo aquele ambiente. No final do corredor tinha outra porta, ainda mais grossa e mais isolada que a anterior. A porta dava para um pequeno quarto completamente escuro onde quando os fachos de luz iluminaram, revelou algo bizarro a mente de Fernando. Renato estava preso a uma cadeira elétrica, e dormindo profundamente.
Além de Renato apenas tinha na sala uma mesa simples, logo atrás dele, com um revólver sobre ela e muitas balas, além de um frasco de vidro vazio e um pedaço de pano. Fernando pensou em ir acudir Renato, mas desistiu quando Albano se colocou entre eles e deu um soco em Renato, que o fez acordar ainda grogue., cuspindo sangue e dentes.
– Hora de acordar. – Falou Albano, puxando os cabelos de Renato e apontando seu rosto para Fernando. – Vejo que possuem, ou possuíram, algum tipo de intimidade... Bem, vou dar a você cinco minutos para fazer o que achar melhor. Estou colocando na mesa as chaves que libertam seu namorado, agora você escolhe o amor ou viver.
– O que tenho que fazer? – Perguntou Fernando, fingindo não saber a resposta.
– Se você viu a arma na mesa, sabe muito bem o que tem que fazer... Deve matar seu namorado. Mas tem que pelo menos descarregar a arma duas vezes nele.
– Porque duas vezes?
– Porque prefiro assim... Aumentará o trauma, sua libertação dos valores anteriores a sua iniciação, e ao mesmo tempo sua frieza. Lembre-se, cinco minutos pro primeiro tiro... Se quiser se matar, faça-o também, mas isso não salva seu namorado.
Albano não deu tempo de Fernando argumentar ou sequer de abrir a boca. Largou os cabelos de Renato e saiu da sala, fechando forte a porta do outro lado. Fernando permaneceu em silêncio enquanto Renato acordava e cuspia o resto do sangue que escorria pela boca. O olhar de Renato era um misto de ódio e incredulidade. O jovem não entendia que tipo de ligação existia entre aquele homem e Fernando, que até poucos dias atrás era o amor de sua vida, e agora parecia compactuar com tudo aquilo. Fernando caminhou até a arma e começou a carregá-la, enquanto Renato voltava completamente a consciência.
Tirolez sorria do outro lado da sala. Suas mãos o tempo todo coçavam, implorando por puxar sua Magnum e dar cabo de uma vez por todas daqueles dois insolentes. “Eles ousaram sobreviver.”, pensava Albano, enquanto se apoiava na parede do corredor e tirava de seu bolso um chiclete de menta e o começava a mascar. Agora faltava pouco tempo, ou Fernando se mostrava digno de pertencer a Organização ou Albano providenciaria a ele uma passagem de ida pra o inferno, de uma viagem lenta. De repente ele escutou uma seqüência de disparos vindos da sala. Imediatamente deslocou uma parte da parede, parcialmente oculta, que revelou um painel de controle com uma tela de LCD que mostrava através de câmeras o que acontecia dentro da sala. Albano sorriu satisfeito com a cena que via.
– Renato, eu... – Balbuciava Fernando, sofrendo muito, pois apesar de tudo, de todos os problemas, aquele era o homem de sua vida.
– O que você quer? – Falou Renato. – Eu sei que você trabalha pra eles, eu vi em seus olhos... Começou quando isso? Era loucura demais pra você... Eu tinha certeza disso!
– Renato, entenda, eu... Eu...
– Porque não consegue falar? Por acaso está em dúvida? É isso? Por Deus, Fernando, decida-se de uma vez por todas, você me ama ou não?
Fernando não respondeu, não com palavras, delicadamente soltou Renato e quando o soltou o abraçou com todo o amor que poderia sentir por ele. Renato correspondeu o abraço e em seguida se beijaram. O beijo foi longo e ardente, e quando terminou, Renato e Fernando trocaram olhares ternos, repletos de amor, e em seguida Fernando falou:
– Fernando sempre te amou... Jonas nunca.
Sem derramar uma única lágrima Fernando descarregou os oito tiros do revólver no peito de Renato, que arregalou os olhos, imerso em dor, e caiu novamente na cadeira. Fernando, sem olhar um momento sequer para Renato, voltou até a mesa para recarregar sua arma. “Eu sei... Eu sei que você faria isso... Pelo menos sei que não foi o homem que amei quem fez isso... A Sombra me falou...”, balbuciava Renato, com suas últimas forças, enquanto Fernando terminava de recarregar a arma.
– Adeus, Renato. – Despediu-se Fernando. – Que a Sombra te guie até Fernando...
Fernando deu mais oito tiros na cabeça de Renato, que tombou inerte na cadeira. Albano entrou na sala em seguida, observando todo o sangue espalhado pela sala e nas roupas de Fernando. Albano sorria, ao contrário de Tirolez, pois dessa vez não mataria novatos. Mesmo não sendo a primeira vez que via isso acontecer, tinha sido um recorde, em menos de três minutos um dos Iniciados cortara de uma vez por todas os laços anteriores. E sem deixar uma bala sequer no tambor. “Esse rapaz tem muito potencial”, pensava Albano. Seja bem vindo a Organização. – Decretou Albano.
Bem Vindo!