Revelações de Jonas: Conspiração
Primeira Etapa do Plano
Nomes e professores
Jonas esperou por alguma espécie de explicação por parte da sombra sobre o que estavam fazendo novamente naquele local. Sentia-se mal por depois de tudo que passara ainda ter que encarar o motivo de sua desgraça mais uma vez. A Sombra o ignorava solenemente e conversava com seu Cavaleiro Negro ignorando completamente todos os apelos de Jonas. Jonas sentia próximo deles mais uma vez o Rio Cinzento, e se perguntava se em algum momento aquele anjo que vira da primeira vez apareceria.
– Não, Taniel não aparecerá aqui, e é provável que nunca mais o veja... – Disse a Sombra, retornando a seu diálogo com o Cavaleiro.
Desistindo de esperar qualquer tipo de manifestação por parte daqueles dois, Jonas se afastou e começou a caminhar pelas redondezas. "Me encontrarão se quiserem", admitiu enquanto andava. Ao menos dessa vez não esta nu como da outra vez e apesar de algo lhe dizer que era evidente que não estava usando roupas também naquele momento, estar vendo com seus olhos os trapos que vestia na hora que morreu lhe davam certo conforto. Sentia falta de Adalberto, apesar de tê-lo visto tão pouco sua curta convivência abrandou um pouco o ódio que sentira. Intimamente desejava se vingar a todo custo do Cavaleiro Negro, e conseguiria isso de alguma forma.
De repente, Jonas se deparou com algo inusitado em suas andanças pelo desfiladeiro. Viu a uns trezentos metros de onde estava uma caverna. A princípio não deu muita importância a ela, mas quando escutou um gemido e o som de correntes batendo umas as outras, levou um susto absurdo e foi tomado por sua curiosidade. Pensou muito se deveria ou não entrar naquela caverna para ver o que estava ali dentro, mas não tempo o suficiente para desistir. Acabou entrando na caverna.
Era uma caverna escura e úmida. Gostas de água vermelha caiam do teto e parecia ser uma formação bem antiga pela presença de muitas estalagmites e estalactites. Era escuro, mas por alguma razão que Jonas ainda não compreendia, conseguia enxergar perfeitamente bem ali dentro, detalhe por detalhe. "Que bom... pelo menos mortos não usam lanterna.", pensou Jonas. Apesar de curioso, Jonas estava cauteloso, não queria para ele o mesmo cruel destino de Adalberto, pois saber que almas não eram indestrutíveis era algo novo e aterrador para ele. Foi quando viu chumbado no chão o começo de uma grossa corrente. Era uma corrente negra e seus elos eram do mesmo tamanho dos elos de correntes que prendiam as âncoras de navios petroleiros, pareciam pesadas demais e balançavam um pouco.
Jonas acompanhou a corrente até sua fonte e levou um susto. Ela dava em uma câmara completamente lisa da caverna onde no meio dela jazia um homem nu, preso por um total de quatro correntes idênticas, contando com a que Jonas seguira. Elas estavam dispostas de forma tal que o homem não conseguiria avançar mais que dois passos daquele lugar. Mas o estado deplorável do homem era suficiente para mostrar que sequer meio passo daria. O único traço marcante e presente no homem era que ele possuía cabelos loiros lisos e completamente em pé, lembrando alguns cortes militares. Sua pele estava toda coberta de hematomas e ele parecia dormir. Foi quando Jonas, como se hipnotizado pela presença estranha dessa pessoa, chutou uma pedra que foi quicando sonoramente até chegar a essa figura.
De sobressalto Jonas se escondeu atrás de uma saliência nas paredes da caverna e esperou, completamente apavorado. Não sabia com o que se apavorara, era um medo que teve a certeza de ser antigo. Imediatamente sua mente foi tomada com lembranças de outras vidas, outras mortes, de um mal presságio anterior até mesmo a existência do planeta Terra. E Jonas decidiu voltar o quanto antes. Ele saiu da saliência da caverna e pé ante pé foi se afastando de tudo aquilo, quando sentiu um arrepio e olhou para o homem. O homem levantara a cabeça e olhava fixamente para Jonas. O jovem sentiu um novo arrepio começando na ponta dos cabelos e indo até a ponta das unhas do pé. "Seus olhos são vermelho sangue... E bifurcados...", constatou Jonas a si mesmo. O homem levantou-se tomado de uma fúria aparentemente incontrolável e agitou as correntes. Jonas não teve nenhuma curiosidade e começou a correr.
Ele vira o invasor. Era impressionante como ele nunca tinha paz. Sempre, por mais isolado e imerso em sua dor estivesse e o quanto nas profundezas estivesse, sempre apareceria alguém para perturbá-lo em seus pensamentos. Era jovem o invasor, provavelmente algum curioso, amedrontado demais para entender o tamanho do problema em que se metera. Ele se levanta em meio as correntes que o prendem e escolhe a corrente que está na mesma direção aonde o jovem corre. E puxa forte a corrente, fazendo um estrondo que poderia ser ouvido a quilômetros dali. Com a força de sua mente poderosa a corrente se contrai e se molda a sua vontade, agarrando desprevenido seu invasor e trazendo-o até ele. "Será divertido", pensa, enquanto os gritos de pavor de seu invasor se aproximam mais e mais.
Jonas não soube o que o antigo. Estava tão preocupado correndo que não viu quando as correntes enrolaram seus pés e o derrubaram no chão. Escutou o barulho ensurdecedor a sua frente, mas isso não tinha sido o suficiente. Agora as correntes o amarravam da cabeça aos pés e seu corpo era arrastado pelo chão de volta para a câmara 0nde aquele homem estava. Sua cabeça batia violentamente nas sinuosidades da caverna, provavelmente se estivesse vivo sangraria.
Mais uma vez via um lado bom em estar morto. Ele chegou rápido ao local onde o homem agora estava de pé o aguardando. Mas o homem não estava mais nu, ele vestia uma armadura negra e dois pares de asas negras lhe adornavam as costas. Ao contrário do Cavaleiro Negro, não usava capacete, apenas uma espécie de tiara que deixava seu cabelo a mostra e seu rosto assombroso idem. As correntes giraram e se prenderam ao teto da caverna, se enrolando nas estalactites. Jonas ficou então dependurado de cabeça para baixo, face a face com o misterioso ser de olhos bifurcados, que agora brilhavam.
– Invasor... – Disse o homem, com sua voz parecendo um rosnado de leão, com o rosto tão próximo de Jonas que dava para sentir sua respiração.
– Não... Eu escutei um barulho e vim ver... – Balbuciou Jonas, apavorado. – Foi sem querer... Foi...
– Se não quisesse não teria entrado. – Falou o homem, apertando mais as correntes. – Agora, como gostaria de morrer? Como uma passa ou pelo fio da espada?
– Não... Não...
O homem se irritou com o medo de Jonas e socou-o como se fosse um saco de pancadas. Jonas bateu várias vezes contra o teto da caverna, levantando muita poeira. Apesar disso as correntes não se soltaram. Com um gesto do homem as correntes pararam de balançar e ele voltou-se novamente para Jonas.
– Já decidiu? – Perguntou o homem, segurando a cabeça de Jonas, que para seu pavor viu que os dedos do homem tinham garras invertidas na armadura.
– Não haverá mortes hoje, pelo menos de nenhum Jonas. – Disse uma voz sombria vindo pela caverna. Era a Sombra, que finalmente chegara para salvar Jonas de mais um problema. O homem reagiu com raiva a misteriosa chegada.
– Ah, é você... – Falou o homem, acalmando-se por completo. Até mesmo seus olhos bifurcados tornaram-se olhos normais e de um azul completamente sereno, um contraste com os últimos segundos. – Por acaso esse infeliz é coisa sua?
– Sim e não... Se ele está aqui é por SUA causa. – Disse a Sombra, dando ênfase a culpa do homem. – Daik-Haniah, não sente nele o cheiro dos habitantes locais daqui?
– Sinto...
– Então, ele apareceu aqui anos atrás, logo depois do que VOCÊ fez a essa colônia, e escutou uma conversa minha com seu amigo Taniel... Bem, pra resumir tudo, no final, por causa do que sabia, ou ele seria destruído ou se juntaria a nós.
– Você? Destruindo alguém?
– Não exatamente, Mizovitan o viu... E sabe como ele reage a intrusos nesses locais...
– É... Então posso soltar esse moleque.
Jonas não entendia muito bem a situação toda, mas entendeu bem o que queria dizer a respeito de soltar, e ao invés de desabar no chão como fruta podre conseguiu cair de maneira menos vergonhosa. Ergueu-se desastrado limpando a poeira e então finalmente entrou em sua cabeça quem era aquele homem diante dele, o destruidor daquele local.
– Você! Você fez tudo isso aqui... – Falou Jonas.
– Sim, ou acaso é surdo? – Questionou o homem. – Acabamos de falar sobre minha culpa...
– Você é o destrinchador de mundos?
– Não, " destrinchador" não, "devorador"... Daik-Haniah, meu real nome. Diga-me jovem, qual seu nome?
– Jonas.
– Bem, Jonas, a mancha negra já disse a você por que recrutou uma pessoa como você para trabalhar com ele?
– Não.
– Então... – O homem olhou para a Sombra. – Não me incomodo de saber, mas diga isso em português, acredito que ele não esteja familiarizado com nosso idioma.
– Bem, como bem devem saber não existe força no universo que possa superar os anjos. – Falou a Sombra. – Que eles são os mais próximos de Deus e todo aquele blábláblá que corre nisso... O tal do Graal.
– Mas eu, você e Mitzrael superamos... – Interrompeu o homem.
– Não é bem assim... Nós somos diferentes... – disse a Sombra, dando continuidade. – E como tal, a força de fé manifestada pelos anjos, o Graal, é considerada a força suprema. Nenhum habitante das profundezas ou desse parâmetro são capazes de superar. Até aí acredito que todos saibam... – Jonas assentiu com a cabeça, estranhando saber disso mesmo sem ter escutado nunca em sua vida na Terra... provavelmente informações de outras vidas. – Bem, Jonas pertence a uma classe de seres que entre os anjos é dado como certo que jamais conseguirão superá-los em relação ao Graal... Alegam que Anjos são perfeitos e crias diretas do Pai Celestial, diferentes dos espíritos comuns, que no máximo conseguirão arranhar a couraça de um anjo.
– E onde eu me encaixo? – Perguntou Jonas.
– Você é uma experiência que quero há muito tempo fazer... Eu há algum tempo atrás desafiei o Pai Celestial para um embate justo e o ganhei. Tal vitória, legítima, foi contestada pelos anjos e por todos que souberam disso...
– Você enfrentou Deus... E Ganhou? – indagou Jonas. – É impossível...
– NADA é impossível... Basta ter fé. – Afirmou a Sombra, vendo que o uso da palavra "fé", causara espanto a Jonas. – Bem, não vem ao caso... Desde então planejei treinar um espírito dos mais fracos em todos os aspectos para provar aos anjos que eles não são os seres supremos... Literalmente, quebrar seus salto-altos divinos.
– E esse espírito fraco seria eu? – Perguntou Jonas.
– Exato, o terceiro pra ser mais preciso... Os dois anteriores não sobreviveram ao treinamento... Mas foi há muito tempo atrás, antes da queda do Devorador de Almas e do Cavaleiro Negro. E agora vou treiná-lo junto com meus dois asseclas, o Cavaleiro Negro e o Devorador de Almas.
Um arrepio passou pela nuca de Jonas. Ele escutou que seria treinado pela Sombra, pelo Cavaleiro Negro e pelo Devorador de Almas. Um trio estranho e assombroso demais para seus padrões, aliás, nem sabia se sobreviveria a isso. Por um momento pensou em se forçar a acordar desse pesadelo, mas tinha certeza que não estava em coma como da outra vez. Era uma realidade confusa e cheia de informação com a qual jamais entenderia sem muito esforço.
– E porque a necessidade de nós três? – Indagou Daik-Haniah.
– Individualmente somos os mais poderosos em nossas categorias... Subterfúgio, Investigação e Guerra, um triunvirato difícil de superar senão por você-sabe-quem, quando treinei os dois anteriores, falhei porque por mais perfeitos que fossem no meu quesito, nos demais eram insuficientes e eram destruídos na hora da prática. Com vocês dois auxiliando, criaremos um ser mais equilibrado, capaz de sobreviver ao que planejo para ele, e vocês sabem o que é.
Daik-Haniah se afastou e sentou em uma pedra da caverna. Pensou por um tempo e abriu um largo sorriso. Havia lógica naquilo que a Sombra falava. Ele e Mitzrael eram exemplos vivos disso, assim como seu amigo Taniel. Eram seres completamente inferiores nos patamares locais, e por sua vez desprezados, que conseguiram em um curto espaço de tempo superar todos os adversários no quesito prático. Tudo bem que como no conto de Sansão, uma mulher derrotou os dois e outros usando dois músculos mais desenvolvidos que os punhos, o cérebro e a vulva, mas era passado, somente os ferira e com o tempo ficariam mais fortes que antes. Jonas tinha potencial, todos tinham... Daik-Haniah não era cria do Pai Celestial, mas reconhecia a capacidade de evoluir da linhagem de Taniel, e isso podia ser transmitido, mesmo que demorasse, a alguém da linhagem de Jonas. Daria trabalho? Muito, mas compensaria.
– Perfeito, começamos agora... – Falou Daik-Haniah, olhando para Jonas e sorrindo. – Se você achava que sofreu muito... Prepare-se...
– Não, Taniel não aparecerá aqui, e é provável que nunca mais o veja... – Disse a Sombra, retornando a seu diálogo com o Cavaleiro.
Desistindo de esperar qualquer tipo de manifestação por parte daqueles dois, Jonas se afastou e começou a caminhar pelas redondezas. "Me encontrarão se quiserem", admitiu enquanto andava. Ao menos dessa vez não esta nu como da outra vez e apesar de algo lhe dizer que era evidente que não estava usando roupas também naquele momento, estar vendo com seus olhos os trapos que vestia na hora que morreu lhe davam certo conforto. Sentia falta de Adalberto, apesar de tê-lo visto tão pouco sua curta convivência abrandou um pouco o ódio que sentira. Intimamente desejava se vingar a todo custo do Cavaleiro Negro, e conseguiria isso de alguma forma.
De repente, Jonas se deparou com algo inusitado em suas andanças pelo desfiladeiro. Viu a uns trezentos metros de onde estava uma caverna. A princípio não deu muita importância a ela, mas quando escutou um gemido e o som de correntes batendo umas as outras, levou um susto absurdo e foi tomado por sua curiosidade. Pensou muito se deveria ou não entrar naquela caverna para ver o que estava ali dentro, mas não tempo o suficiente para desistir. Acabou entrando na caverna.
Era uma caverna escura e úmida. Gostas de água vermelha caiam do teto e parecia ser uma formação bem antiga pela presença de muitas estalagmites e estalactites. Era escuro, mas por alguma razão que Jonas ainda não compreendia, conseguia enxergar perfeitamente bem ali dentro, detalhe por detalhe. "Que bom... pelo menos mortos não usam lanterna.", pensou Jonas. Apesar de curioso, Jonas estava cauteloso, não queria para ele o mesmo cruel destino de Adalberto, pois saber que almas não eram indestrutíveis era algo novo e aterrador para ele. Foi quando viu chumbado no chão o começo de uma grossa corrente. Era uma corrente negra e seus elos eram do mesmo tamanho dos elos de correntes que prendiam as âncoras de navios petroleiros, pareciam pesadas demais e balançavam um pouco.
Jonas acompanhou a corrente até sua fonte e levou um susto. Ela dava em uma câmara completamente lisa da caverna onde no meio dela jazia um homem nu, preso por um total de quatro correntes idênticas, contando com a que Jonas seguira. Elas estavam dispostas de forma tal que o homem não conseguiria avançar mais que dois passos daquele lugar. Mas o estado deplorável do homem era suficiente para mostrar que sequer meio passo daria. O único traço marcante e presente no homem era que ele possuía cabelos loiros lisos e completamente em pé, lembrando alguns cortes militares. Sua pele estava toda coberta de hematomas e ele parecia dormir. Foi quando Jonas, como se hipnotizado pela presença estranha dessa pessoa, chutou uma pedra que foi quicando sonoramente até chegar a essa figura.
De sobressalto Jonas se escondeu atrás de uma saliência nas paredes da caverna e esperou, completamente apavorado. Não sabia com o que se apavorara, era um medo que teve a certeza de ser antigo. Imediatamente sua mente foi tomada com lembranças de outras vidas, outras mortes, de um mal presságio anterior até mesmo a existência do planeta Terra. E Jonas decidiu voltar o quanto antes. Ele saiu da saliência da caverna e pé ante pé foi se afastando de tudo aquilo, quando sentiu um arrepio e olhou para o homem. O homem levantara a cabeça e olhava fixamente para Jonas. O jovem sentiu um novo arrepio começando na ponta dos cabelos e indo até a ponta das unhas do pé. "Seus olhos são vermelho sangue... E bifurcados...", constatou Jonas a si mesmo. O homem levantou-se tomado de uma fúria aparentemente incontrolável e agitou as correntes. Jonas não teve nenhuma curiosidade e começou a correr.
Ele vira o invasor. Era impressionante como ele nunca tinha paz. Sempre, por mais isolado e imerso em sua dor estivesse e o quanto nas profundezas estivesse, sempre apareceria alguém para perturbá-lo em seus pensamentos. Era jovem o invasor, provavelmente algum curioso, amedrontado demais para entender o tamanho do problema em que se metera. Ele se levanta em meio as correntes que o prendem e escolhe a corrente que está na mesma direção aonde o jovem corre. E puxa forte a corrente, fazendo um estrondo que poderia ser ouvido a quilômetros dali. Com a força de sua mente poderosa a corrente se contrai e se molda a sua vontade, agarrando desprevenido seu invasor e trazendo-o até ele. "Será divertido", pensa, enquanto os gritos de pavor de seu invasor se aproximam mais e mais.
Jonas não soube o que o antigo. Estava tão preocupado correndo que não viu quando as correntes enrolaram seus pés e o derrubaram no chão. Escutou o barulho ensurdecedor a sua frente, mas isso não tinha sido o suficiente. Agora as correntes o amarravam da cabeça aos pés e seu corpo era arrastado pelo chão de volta para a câmara 0nde aquele homem estava. Sua cabeça batia violentamente nas sinuosidades da caverna, provavelmente se estivesse vivo sangraria.
Mais uma vez via um lado bom em estar morto. Ele chegou rápido ao local onde o homem agora estava de pé o aguardando. Mas o homem não estava mais nu, ele vestia uma armadura negra e dois pares de asas negras lhe adornavam as costas. Ao contrário do Cavaleiro Negro, não usava capacete, apenas uma espécie de tiara que deixava seu cabelo a mostra e seu rosto assombroso idem. As correntes giraram e se prenderam ao teto da caverna, se enrolando nas estalactites. Jonas ficou então dependurado de cabeça para baixo, face a face com o misterioso ser de olhos bifurcados, que agora brilhavam.
– Invasor... – Disse o homem, com sua voz parecendo um rosnado de leão, com o rosto tão próximo de Jonas que dava para sentir sua respiração.
– Não... Eu escutei um barulho e vim ver... – Balbuciou Jonas, apavorado. – Foi sem querer... Foi...
– Se não quisesse não teria entrado. – Falou o homem, apertando mais as correntes. – Agora, como gostaria de morrer? Como uma passa ou pelo fio da espada?
– Não... Não...
O homem se irritou com o medo de Jonas e socou-o como se fosse um saco de pancadas. Jonas bateu várias vezes contra o teto da caverna, levantando muita poeira. Apesar disso as correntes não se soltaram. Com um gesto do homem as correntes pararam de balançar e ele voltou-se novamente para Jonas.
– Já decidiu? – Perguntou o homem, segurando a cabeça de Jonas, que para seu pavor viu que os dedos do homem tinham garras invertidas na armadura.
– Não haverá mortes hoje, pelo menos de nenhum Jonas. – Disse uma voz sombria vindo pela caverna. Era a Sombra, que finalmente chegara para salvar Jonas de mais um problema. O homem reagiu com raiva a misteriosa chegada.
– Ah, é você... – Falou o homem, acalmando-se por completo. Até mesmo seus olhos bifurcados tornaram-se olhos normais e de um azul completamente sereno, um contraste com os últimos segundos. – Por acaso esse infeliz é coisa sua?
– Sim e não... Se ele está aqui é por SUA causa. – Disse a Sombra, dando ênfase a culpa do homem. – Daik-Haniah, não sente nele o cheiro dos habitantes locais daqui?
– Sinto...
– Então, ele apareceu aqui anos atrás, logo depois do que VOCÊ fez a essa colônia, e escutou uma conversa minha com seu amigo Taniel... Bem, pra resumir tudo, no final, por causa do que sabia, ou ele seria destruído ou se juntaria a nós.
– Você? Destruindo alguém?
– Não exatamente, Mizovitan o viu... E sabe como ele reage a intrusos nesses locais...
– É... Então posso soltar esse moleque.
Jonas não entendia muito bem a situação toda, mas entendeu bem o que queria dizer a respeito de soltar, e ao invés de desabar no chão como fruta podre conseguiu cair de maneira menos vergonhosa. Ergueu-se desastrado limpando a poeira e então finalmente entrou em sua cabeça quem era aquele homem diante dele, o destruidor daquele local.
– Você! Você fez tudo isso aqui... – Falou Jonas.
– Sim, ou acaso é surdo? – Questionou o homem. – Acabamos de falar sobre minha culpa...
– Você é o destrinchador de mundos?
– Não, " destrinchador" não, "devorador"... Daik-Haniah, meu real nome. Diga-me jovem, qual seu nome?
– Jonas.
– Bem, Jonas, a mancha negra já disse a você por que recrutou uma pessoa como você para trabalhar com ele?
– Não.
– Então... – O homem olhou para a Sombra. – Não me incomodo de saber, mas diga isso em português, acredito que ele não esteja familiarizado com nosso idioma.
– Bem, como bem devem saber não existe força no universo que possa superar os anjos. – Falou a Sombra. – Que eles são os mais próximos de Deus e todo aquele blábláblá que corre nisso... O tal do Graal.
– Mas eu, você e Mitzrael superamos... – Interrompeu o homem.
– Não é bem assim... Nós somos diferentes... – disse a Sombra, dando continuidade. – E como tal, a força de fé manifestada pelos anjos, o Graal, é considerada a força suprema. Nenhum habitante das profundezas ou desse parâmetro são capazes de superar. Até aí acredito que todos saibam... – Jonas assentiu com a cabeça, estranhando saber disso mesmo sem ter escutado nunca em sua vida na Terra... provavelmente informações de outras vidas. – Bem, Jonas pertence a uma classe de seres que entre os anjos é dado como certo que jamais conseguirão superá-los em relação ao Graal... Alegam que Anjos são perfeitos e crias diretas do Pai Celestial, diferentes dos espíritos comuns, que no máximo conseguirão arranhar a couraça de um anjo.
– E onde eu me encaixo? – Perguntou Jonas.
– Você é uma experiência que quero há muito tempo fazer... Eu há algum tempo atrás desafiei o Pai Celestial para um embate justo e o ganhei. Tal vitória, legítima, foi contestada pelos anjos e por todos que souberam disso...
– Você enfrentou Deus... E Ganhou? – indagou Jonas. – É impossível...
– NADA é impossível... Basta ter fé. – Afirmou a Sombra, vendo que o uso da palavra "fé", causara espanto a Jonas. – Bem, não vem ao caso... Desde então planejei treinar um espírito dos mais fracos em todos os aspectos para provar aos anjos que eles não são os seres supremos... Literalmente, quebrar seus salto-altos divinos.
– E esse espírito fraco seria eu? – Perguntou Jonas.
– Exato, o terceiro pra ser mais preciso... Os dois anteriores não sobreviveram ao treinamento... Mas foi há muito tempo atrás, antes da queda do Devorador de Almas e do Cavaleiro Negro. E agora vou treiná-lo junto com meus dois asseclas, o Cavaleiro Negro e o Devorador de Almas.
Um arrepio passou pela nuca de Jonas. Ele escutou que seria treinado pela Sombra, pelo Cavaleiro Negro e pelo Devorador de Almas. Um trio estranho e assombroso demais para seus padrões, aliás, nem sabia se sobreviveria a isso. Por um momento pensou em se forçar a acordar desse pesadelo, mas tinha certeza que não estava em coma como da outra vez. Era uma realidade confusa e cheia de informação com a qual jamais entenderia sem muito esforço.
– E porque a necessidade de nós três? – Indagou Daik-Haniah.
– Individualmente somos os mais poderosos em nossas categorias... Subterfúgio, Investigação e Guerra, um triunvirato difícil de superar senão por você-sabe-quem, quando treinei os dois anteriores, falhei porque por mais perfeitos que fossem no meu quesito, nos demais eram insuficientes e eram destruídos na hora da prática. Com vocês dois auxiliando, criaremos um ser mais equilibrado, capaz de sobreviver ao que planejo para ele, e vocês sabem o que é.
Daik-Haniah se afastou e sentou em uma pedra da caverna. Pensou por um tempo e abriu um largo sorriso. Havia lógica naquilo que a Sombra falava. Ele e Mitzrael eram exemplos vivos disso, assim como seu amigo Taniel. Eram seres completamente inferiores nos patamares locais, e por sua vez desprezados, que conseguiram em um curto espaço de tempo superar todos os adversários no quesito prático. Tudo bem que como no conto de Sansão, uma mulher derrotou os dois e outros usando dois músculos mais desenvolvidos que os punhos, o cérebro e a vulva, mas era passado, somente os ferira e com o tempo ficariam mais fortes que antes. Jonas tinha potencial, todos tinham... Daik-Haniah não era cria do Pai Celestial, mas reconhecia a capacidade de evoluir da linhagem de Taniel, e isso podia ser transmitido, mesmo que demorasse, a alguém da linhagem de Jonas. Daria trabalho? Muito, mas compensaria.
– Perfeito, começamos agora... – Falou Daik-Haniah, olhando para Jonas e sorrindo. – Se você achava que sofreu muito... Prepare-se...